Postado dia 11/12/24 | 7min. de leitura
Castelo Garcia D'Ávila: tudo sobre um espaço cheio de história
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Existem lugares emblemáticos que marcam para sempre nossas memórias, mesmo quando visitados apenas uma vez. O Castelo Garcia D'Ávila é um deles, um monumento histórico de extrema importância para a colonização do Brasil e peça chave de um grande quebra-cabeça, que é o entendimento da expansão portuguesa para os sertões do nordeste a partir da segunda metade do séc. XVI.
O complexo arqueológico está localizado na Costa dos Coqueiros, mais especificamente na belíssima Praia do Forte. Do alto do seu promontório é possível avistar boa parte do litoral norte e parte do lindo coqueiral que deu nome à costa, um lugar que além de histórico, inspira pela beleza da natureza que o cerca.
Sem dúvida alguma, ir ao Castelo Garcia d’Ávila é um dos pontos altos para quem visita a Praia do Forte. E se você é apaixonado por história, aproveite cada metro cúbico do museu que lá foi instalado, oportunidade de aprender e ampliar seus conhecimentos com uma bela pesquisa in loco.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
Um pouco da história do Castelo Garcia d’Ávila
Após a morte de Francisco Pereira Coutinho, donatário da Capitania Hereditária da Baía de Todos os Santos, e do fracasso da maior parte das capitanias que subdividiram o nosso litoral, o Rei D. João III decidiu por instituir um novo modelo de gestão, criando o primeiro Governo Geral em 1548.
Para tanto, enviou Tomé de Sousa com o propósito de construir a cidade da Baía, sede administrativa de um projeto centralizador que visava produção e acúmulo de riquezas para Portugal.
Riqueza esta, que viria principalmente por meio do açúcar, mas cuja ambição de encontrar ouro e outros minerais preciosos permeavam o imaginário da Coroa e dos seus comandados na América Portuguesa.
Desta forma, Salvador foi construída a partir de 1549, tendo como almoxarife Garcia d’Ávila, que para alguns historiadores, era filho bastardo de Tomé de Sousa e homem de sua integral confiança.
O governador incumbiu Garcia d’Ávila com duas missões. A primeira foi a de cumprir o Regimento da Coroa, que implicava em desbravar terras desconhecidas duas léguas além da Povoação do Pereira (atuais bairros da Barra e Graça em Salvador) até Tatuapara (atual Praia do Forte), construindo um baluarte para a vigilância da costa. Tal região ainda tinha a constante presença dos franceses, que negociavam pau-brasil com o gentio e ameaçavam o domínio português.
A segunda, é que ao ocupar tal posição estratégica, Garcia d’Ávila adentrasse aos sertões subjugando indígenas, povoando e liderando expedições em busca do “eldorado”, o tão sonhado ouro e demais minerais preciosos que buscavam os portugueses.
Assim, em 1550, ele escolheu Tatuapara como base das suas instalações, erigindo o baluarte em promontório 50 metros acima do nível do mar, de onde se tinha visão privilegiada da costa e poderia antever a chegada de embarcações invasoras.
O baluarte se chamou em princípio Torre de São Pedro de Rates, tendo por função uma casa de residência e fortificação, que também servia para conter índios bravios e reprimir estrangeiros que por lá aparecessem. Tal baluarte ficou celebremente conhecido posteriormente como Casa da Torre, ou Castelo Garcia d’Ávila (BANDEIRA, 2000, p.92).
Garcia d’Ávila teve muitos filhos e dentre eles, a mameluca Isabel d’Ávila foi sua preferida. O casamento dela com Diogo Dias, neto de Caramuru e Catarina Paraguaçu, deu início ao Morgado da Casa da Torre.
Trata-se de uma longa senhoria mestiça que, por aproximadamente 300 anos, se configurou na formação de um fortíssimo exército de encourados mamelucos. Força essa, que passou a adentrar mais e mais nos sertões ao norte do Rio São Francisco, subjugando etnias, fundando currais de gado, protegendo o vasto território conquistado de invasores e recebendo sesmarias como prêmio.
No início do séc. XIX , o morgado da família Garcia d’Ávila já era o maior latifúndio do mundo, com terras que se estendiam da Bahia até o Maranhão, sendo a Casa da Torre seu centro administrativo.
Tal feito se deu por meio do extermínio e escravização indígena, mas também com a exploração da mão de obra escravizada africana, que sofreu grandes penúrias nas mãos dos Garcia d'Ávila. Especialmente o Mestre de Campo Garcia d’Ávila Pereira de Aragão, que liderou o morgado durante a segunda metade do séc. XVIII.
Considerado o mais cruel dos descendentes de Garcia d’Ávila, praticou toda sorte de torturas aos escravizados, das mais hediondas, e tais feitos só foram registrados graças a uma denúncia corajosa que o mesmo sofrera ao Tribunal do Santo Ofício (MOTT, 2010, p.65).
Referências
BANDEIRA, Moniz. O feudo: a Casa da Torre de Garcia d’Ávila: da conquista dos sertões à Independência do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
MOTT, Luiz. Bahia: Inquisição e Sociedade. Salvador: Edufba, 2010.
O que fazer no Castelo Garcia D'Ávila
Por se tratar de um dos mais importantes sítios históricos do Brasil, o ideal é passar pelo menos uma tarde no Castelo Garcia d’Ávila, quando não for possível um dia inteiro. Para quem deseja aproveitar o tempo de visita com estudos históricos e observações interessantes sobre os primórdios da colonização portuguesa a partir da Bahia, segue um guia de atividades por lá:
Conheça as ruínas da Casa da Torre dos Garcia d’Ávila
Foram 10 gerações da família Garcia d’Ávila que viveram na Casa da Torre em Praia do Forte. Obra arquitetônica esta que é considerada a única construção com características medievais das Américas. Foi também a primeira grande edificação civil portuguesa no Brasil, além de marcar o início da colonização no país.
O monumento levou mais de 100 anos para ser construído, entre 1551 e 1664, sendo primeiro uma fortificação de proteção do território português e depois a sede do maior latifúndio da época.
Suas imponentes ruínas atraem visitantes do mundo inteiro e uma simples caminhada pelos espaços é suficiente para um mergulho no passado. Mas é importante ir com tempo, visitar o andar superior, adentrar em as galerias e explorar suas diversas paredes de pedra com mais de 450 anos.
Destaque para a luz amarela do sol ao entardecer, que doura as paredes de pedra e torna o local excelente para fotografias épicas.
Visite o Museu do Castelo Garcia d’Ávila
Estamos falando de um dos mais completos museus da Bahia, riquíssimo em conteúdos e interatividade. Inaugurado em fevereiro de 2021, ele conta a história da família Garcia d’Ávila de maneira dinâmica, proporcionando depoimentos de historiadores, de nativos da região e de pessoas ligadas à família.
Todo o espaço é climatizado e oferece uma linda maquete da antiga Casa da Torre, que dá aos visitantes uma noção tridimensional de como era a mesma antes de se tornar ruínas. Além disso, por lá os visitantes encontram réplicas de embarcações portuguesas em miniatura, totens interativos e mapas.
Há também um setor com incríveis achados arqueológicos encontrados durante a pesquisa realizada pelo Grupo técnico do Centro de Estudos das Ciências Humanas (CECH), entre 1999 e 2004. Nela, arqueólogos como Ivan Dorea Cancio Soares e Nádja Freire Dorea Soares, encontraram aproximadamente 400 mil fragmentos e peças, dentre eles cerâmicas indígenas, portuguesas e africanas, azulejos, objetos em geral e artefatos bélicos.
Após organizado, catalogado e amplamente estudado, todo esse material foi capaz de reconstruir o estilo de vida dos habitantes da Casa da Torre, e parte dele se encontra no museu à disposição dos visitantes.
Veja a Capela de Nossa Senhora da Conceição
Datada do séc. XVI, a Capela Nossa Senhora da Conceição é uma das mais antigas do Brasil e foi uma das primeiras partes a ser construída na Casa da Torre. Por lá os visitantes se encantam com sua singela arquitetura, típica das capelas primitivas construídas nesse período.
Ela possui alvenaria de tijolo e é recoberta com abóbada do mesmo material. De planta centrada, é comprovadamente quinhentista, tendo sido descrita por antigos cronistas do séc. XVI, como Gabriel Soares de Sousa, em seu “Tratado descritivo do Brasil em 1589”; e Fernão Cardim, em" Tratados da Terra e Gente do Brasil”, em 1596.
Referência
AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v.2. Monumentos e Sítios do Recôncavo. I Parte, 1975-2002. 7v.
Vá até a gameleira do Castelo Garcia d’Ávila
Ao lado da Capela de N. S. da Conceição e das ruínas do Castelo Garcia d’Ávila, se encontra uma frondosa gameleira de aproximadamente 140 anos. Com tronco largo e galhos enormes, possui uma copa gigantesca e arredondada que oferece deliciosa sombra aos visitantes.
Os turistas são surpreendidos com histórias do séc. XVI narradas por meio de uma caixa de som escondida em seu tronco, uma verdadeira experiência que convida a sentar sob a sombra desta árvore sagrada para as religiões afro-brasileiras.
São histórias sobre a vida e cotidiano no castelo, narradas pela própria árvore, que protagonizou boa parte delas em seu longo tempo de vida. Um espetáculo!
Assista o Vídeo Mapping
As ruínas do Castelo Garcia d’Ávila recebem projeção mapeada de maneira a narrar a história da Casa da Torre e da família Garcia d’Ávila. O espetáculo é apresentado durante a noite, com os visitantes sentados no deck para assistir algumas histórias que constituíram parte da formação da Bahia e do Brasil.
Mais informações sobre o Castelo Garcia d’Ávila
Segue dias, horários, preços e demais informações:
Dias e horário de funcionamento: quarta e quinta, das 10h às 17h, sem VIDEO MAPPING; sexta, sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h, com VIDEO MAPPING.
Preços: Inteira - R$ 40,00; Meia - R$ 20,00 (neste caso, para estudantes, acompanhantes PCD e maiores de 60 anos, além de funcionários da CETREl, professores e militares). Para grupos de 5 adultos - R$ 180,00. Gratuidade para crianças de até 5 anos, PCD e pessoas naturais de Mata de São João.
Como chegar ao Castelo Garcia d’Ávila
Como já foi dito, o Castelo Garcia d’Ávila está localizado na Praia do Forte, a aproximadamente 60 km do aeroporto de Salvador.
Se você não quer se hospedar na Praia do Forte, uma ótima alternativa para chegar até ele é contratar o Passeio para a Praia de Santo Antônio com Reserva Sapiranga e Castelo Garcia d’Ávila ou o Passeio para Imbassaí com Reserva Sapiranga e Castelo Garcia d’Ávila. Ambos proporcionam dias especiais, com praia e banhos de mar, muita natureza e a rica história do Castelo.
Mas se você preferir, pode ir até Praia do Forte para desde lá, poder visitar o Castelo Garcia D’Avila. Então, 4 maneiras para ir de Salvador até a Praia do Forte, e não perca nenhum dos atrativos que sugerimos neste artigo!