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Lampião e Maria Bonita: história e curiosidades

Postado dia 20/05/25 | 6min. de leitura

Lampião e Maria Bonita: história e curiosidades

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Entre mitos, lendas e verdades, a história de Lampião e Maria Bonita é muito mais que uma parte da cultura nordestina, de certa forma, ela carrega e transmite valores e mensagens que estão no âmago do povo sertanejo. 

Lampião Maria Bonita e bando de cangaceiros
Lampião e Maria Bonita ao centro e em meio ao bando de cangaceiros - Foto: Benjamin Abrahão - Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Herói ou bandido? Ladrão ou justiceiro? Ou quem sabe, um pouco de tudo? Para falar de Lampião é necessário compreendermos o contexto político e econômico do seu tempo, para então perceber a chegada de Maria Bonita e das mulheres em seu bando. 

Este artigo é dedicado a resumir, da melhor maneira possível, a biografia de Lampião e Maria Bonita, e sua morte brutal no Vale do Rio São Francisco, continue conosco! 

Um pouco sobre a história de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”

Fotografia rara Lampião Benjamin Abrahão
Rara imagem de Lampião produzida por Benjamin Abrahão - Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1897, no sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, sertão de Pernambuco. Teve uma infância convencional, sendo o terceiro de uma família de nove filhos. Embora nunca tenha se separado dos pais, foi criado pelos avós maternos, e sua família era considerada como de gente honesta e trabalhadora.

Apesar de não ter frequentado a escola, aprendeu a ler, escrever e contar com um professor particular. Conhecimento que utilizou para escrever seus famosos bilhetes que o diferenciavam do restante do bando e até de alguns coronéis com quem lidava como aliados.

Virgulino se tornou excelente vaqueiro e exímio costureiro, capaz de confeccionar diversos artefatos de couro que, além de grande utilidade, foram um dos principais traços estéticos do seu bando. Ele entrou para o cangaço em 1919, após conflitos entre sua família e José Saturnino, fazendeiro vizinho da sua família. 

Lampião e cangaceiros Benjamin Abrahão
Lampião e cangaceiros posando para Benjamin Abrahão - Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Após a morte do seu pai, injustamente acusado pela polícia como ladrão e de estar ligado ao cangaço, os irmãos Ferreira entraram no bando do Sinhô Pereira e passaram a lutar um sangrento combate com a família Carvalho. 

Foi o momento em que Virgulino aprendeu a combater e quando construiu sua eficiente rede de influência, responsável pela proteção que teve por todo o nordeste, incluindo a de coronéis e de parte da polícia, que o escondia por meio de suborno.

Em 1922, ele herdou o cangaço do Sinhô Pereira, expandiu significativamente o território e passou a atuar por todo o sertão nordestino, entrando e saindo de diversos estados com impressionante destreza.

Lampião o rei do cangaço
Virgulino Ferreira da Silva "Lampião", o rei do cangaço - Foto: Benjamin Abrahão -Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Ganhou o apelido de Lampião, pois atirava com tanta velocidade que da boca do seu rifle saía fogo que iluminava o chão. Assim, os cangaceiros gritavam: “Nós não precisa mais de sol porque já temos um lampião”!

Para alguns, herói, para outros, bandido. O fato é que Lampião foi violento e sanguinário, mas também elegante, educado e protetor. Lutou contra coronéis e governadores, mas de alguns deles obteve proteção. 

Viveu por causa própria, utilizando do cangaço para ser quem foi, e apesar de ser amplo objeto de estudo científico e das mais diversas correntes e teorias, uma coisa é certa: sua existência e a do cangaço evidenciam o tipo de sociedade injusta e sem lei do sertão e cujas leis não favoreciam seu povo.

Não bastasse o flagelo da seca, ainda havia de sobreviver à covardia, violência e aos desmandos dos coronéis. Por isso Lampião é considerado até hoje um símbolo de resistência pelo povo nordestino, um exemplo de coragem e de enfrentamento ao sistema opressor.

Um pouco sobre a trajetória de Maria Bonita

Maria Bonita bem vestida
Maria Bonita posando para a lente de Benjamin Abrahão - Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Maria Bonita nasceu no dia 8 de março de 1911, na fazenda Malhada da Caiçara, um pequeno povoado de Santo Antônio da Glória, terras que atualmente pertencem a Paulo Afonso, Bahia. Foi a segunda filha de uma sequência de 12 irmãos e se casou com o primo e sapateiro José Miguel da Silva, em um matrimônio arrumado pelas famílias. 

Seu relacionamento conflituoso se desfez após muitas idas e vindas ocasionadas pelo ciúme de Maria por seu marido boêmio. O dia “D” aconteceu quando a mesma encontrou um pente no bolso do marido, que pertencia a uma menina de 13 anos.

Em uma das andanças de Lampião pela região de Paulo Afonso, Maria Bonita o conheceu e por ele se enamorou, passando a viver juntos pelos sertões nordestinos a partir de 1930. O modo de vida machista e violento do cangaço viu em Maria Bonita um precedente para o acolhimento de mulheres, pelo menos no bando de Lampião

Para muitos essa foi a desgraça do cangaço, para outros, uma maneira de diminuir a violência assassina dos cangaceiros. E não tardaram a surgir os contratempos, já que as mulheres não possuíam a força e a resistência dos homens, que por sua vez, tiveram que mudar estratégias de combate para salvaguardá-las. 

Maria Bonita foto de Benjamin Abrahão
Maria Bonita, a rainha do cangaço. Foto: Benjamin Abrahão -Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Outro ponto decisivo era quando elas engravidavam e por não haver possibilidades de criar os filhos, doavam os mesmos para alguém próximo que pudesse criá-los. A própria Maria Bonita teve com Lampião um filho natimorto, posteriormente uma menina chamada Expedita, que cresceu em Jeremoabo criada pelo padrinho.

Voltando a questão da importante presença feminina no cangaço, transcrevo um trecho do livro “Maria Bonita: A Rainha do Cangaço (sua biografia)”, do célebre pesquisador João de Sousa Lima:

“Há vários relatos de episódios em que Maria Bonita intervém em momentos de fúria e crueldade do seu amado. Um deles trata do momento em que Lampião havia capturado o promotor de justiça da Comarca de Água Branca, Manuel Cândido. Quando já estava preparado para espetá-lo, atravessando-lhe o peito com um afiado punhal, Manoel suplicou a Maria Bonita que não o fizesse, pois tinha uma filhinha de seis anos que dependia dele. Nesse instante Maria Bonita pediu ao amado que evitasse tal desgraça, pois só lembrava-se da sua filhinha (Expedita) que também havia deixado em Jeremoabo. O embravecido Lampião, tocado pelas súplicas da mulher que amava, o fez”.

As imagens de Benjamin Abrahão

Entre 1936 e 1937, um sírio de nome Benjamin Abrahão Calil Botto, que fora secretário do Padre Cícero antes da sua morte em 1934, conseguiu conviver com o bando de Lampião.

Benjamin Abrahão, Maria Bonita e Lampião cangaço
Benjamin Abrahão, Maria Bonita e Lampião - Reprodução / Portal Brasiliana Fotográfica

Durante esse encontro produziu imagens que marcaram a história e de como o mundo passou a ver e entender o cangaço brasileiro. Tal material coletado por ele não foi o único, mas suas imagens foram, certamente, as que melhor expressaram a estética dos cangaceiros.

O material foi amplamente publicado em jornais da época e influenciou o imaginário popular, que passou a proliferar histórias e lendas na forma de cordéis, canções, e narrativas passadas de geração em geração através da oralidade. 

No primeiro encontro, Lampião o recebeu com comida e conhaque. Quando Benjamin preparou a máquina para bater as fotos, Lampião o impediu examinando o equipamento e ordenando que primeiro Benjamin fosse fotografado. Somente após constatar que o equipamento não era uma armadilha, que Benjamin pôde iniciar seu trabalho.

Quatro meses depois houve um novo encontro e dessa vez Benjamin pôde ficar 3 dias entre os cangaceiros. Com mais tempo, conseguiu registrar detalhes e hábitos cotidianos do bando, como a missa de domingo, celebrada pelo próprio Lampião, o comportamento dos membros, o vestuário, as refeições etc.

O material produzido por Benjamin foi apreendido após seu filme ser exibido em uma sessão exclusiva para autoridades em Fortaleza no ano de 1937. O Governo se sentiu ameaçado e isso intensificou ainda mais a busca pelo bando, cujas cabeças valiam um bom dinheiro em premiação.

O fim da história de Lampião e Maria Bonita 

Grota do Angico morte Lampião Maria Bonita cangaceiros passeio rota do cangaço
A Grota do Angico, local onde morreram Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros.

O bando de Lampião estava escondido em um local conhecido como Grota do Angico, há 680 metros da margem sergipana do Rio São Francisco. Alguns eventos levaram uma volante alagoana (polícia da época) a emboscar o bando. 

Fortemente armados, partiram da cidade de Piranhas (AL) em pequenas embarcações, e navegando pelo Rio São Francisco, chegaram em um local próximo da grota, desembarcando e organizando o restante da expedição a pé.

O que sucedeu foi a morte de Lampião, de Maria Bonita e mais 9 cangaceiros, tendo a maior parte do bando conseguido escapar. 

Agora que você se inteirou um pouco mais sobre a história de Lampião e Maria Bonita, saiba como reviver esse trágico fim por meio de um passeio conhecido como Rota do Cangaço, confira os detalhes e descubra como vale a pena vivenciar essa experiência.

Bibliografia

ARAÚJO CLEMENTE, M. E. Cangaço e cangaceiros: histórias e imagens fotográficas do tempo de Lampião. Fênix - Revista de História e Estudos Culturais, Uberlândia, v. 4, n. 4, p. 1-18, 2007. Disponível em: https://www.revistafenix.pro.br/revistafenix/article/view/654

ARAÚJO CLEMENTE, M. E. Lampião e o cangaço: trajetórias de vida, histórias como flagelo (1920-1938). Revista Escritas do Tempo, Marabá, v. 2, n. 4, p 108-132, 2020. Disponível em:

https://periodicos.unifesspa.edu.br/index.php/escritasdotempo/article/view/1223

ARAÚJO CLEMENTE, M. E. O cangaço e a representação mística de Lampião (1920-1938). Ponta da Lança: Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura, São Cristóvão, v. 12, n. 22, p. 5-23, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/pontadelanca/article/view/9295

LIMA, João de Sousa. Maria Bonita, a rainha do cangaço: uma biografia. Paulo Afonso: Oxente, 2022.

LIMA, João de Sousa. Terra de brava gente: resquícios de histórias cangaceiras. Paulo Afonso: 2020.

WANDERLEY, A. C. T. Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão. Portal Brasiliana Fotográfica, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=9527


Por Márcio Vasconcelos de O. Torres

Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com


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