
Postado dia 20/05/25 | 6min. de leitura
Rota do Cangaço: o guia completo!
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A Rota do Cangaço é como ficou conhecido um trecho de aproximadamente 10 quilômetros no Vale do Rio São Francisco, mais especificamente entre a cidade de Piranhas e o local onde inicia a trilha pela caatinga que leva à Grota do Angico.
O trecho é muito visitado por turistas de todo o Brasil e pode ser explorado por meio de passeios de catamarã e lancha, percorrendo exatamente a rota que a volante alagoana (polícia) fez para emboscar Lampião e Maria Bonita, levando-os à morte em 1938.
Além da parte histórica, a região é belíssima e oferece excelente infraestrutura turística, com prainhas deliciosas para banho, restaurantes incríveis, muitas regalias e conforto. Continue conosco e entenda melhor esse roteiro que envolve história do cangaço, cultura, gastronomia e belezas naturais!

A história por trás da Rota do Cangaço
Para entender o que é a Rota do Cangaço, é preciso primeiro compreender que o cangaço foi um movimento de banditismo que insurgiu contra as injustiças sociais gerenciadas pelo regime coronelista, cujas leis e autoridades policiais comandava.

De tanto apanhar, sofrer, ver parentes mortos, ter suas terras e casas roubadas, homens se levantaram contra as “autoridades”, se armando e sobrevivendo à margem da sociedade.
Assim se formaram os primeiros bandos do cangaço, que teve seu auge quando Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, se tornou cangaceiro e passou a liderar o bando mais famoso que se tem conhecimento, entre 1922 e 1938.
O bando de Lampião virou celebridade em 1936, quando o fotógrafo sírio Benjamin Abrahão Calil Botto passou um tempo vivendo entre eles e produziu nesse período a mais famosa iconografia do cangaço brasileiro.
Seu trabalho evidenciou a estética dos cangaceiros, transmitindo-a para a mídia da época e também para o imaginário popular, que passou a criar histórias, mitos e lendas por meio de cordéis e canções.

E esse imaginário popular se intensificou grandiosamente após o evento que praticamente levou o cangaço ao fim. Lampião e seu bando estavam na Grota do Angico quando foram surpreendidos pela volante alagoana, que havia navegado de Piranhas até o local onde hoje é o Espaço Angicos. Deste ponto partiram pela caatinga por um trecho de aproximadamente 680 metros, até o local onde Lampião e seu bando se encontravam.
O que sucedeu foi a morte seguida da decapitação de Lampião, Maria Bonita e outros 9 cangaceiros, que tiveram suas cabeças levadas para Piranhas e expostas na escadaria do Palácio Dom Pedro II, atual sede da prefeitura.
Este evento macabro foi eternizado por uma fotografia de autor desconhecido, que circulou o mundo e hoje faz parte da coleção do Instituto Moreira Salles.

A Rota do Cangaço é um passeio embarcado que sai de Piranhas (AL), refaz o percurso da volante alagoana pelo Rio São Francisco e pela trilha que leva até a Grota do Angico, em Sergipe.
Sua importância é grande para a região, não somente pela história, mas por tudo o que o cangaço representa para a cultura nordestina.
Bibliografia
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Feudo: a Casa da Torre de Garcia d’Ávila: da conquista dos sertões à Independência do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
Brasiliana Fotográfica. Lampião e outros cangaceiros sob as lentes de Benjamin Abrahão. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=9527
Os principais destinos da Rota do Cangaço
A Rota do Cangaço ocorre entre dois estados nordestinos, Sergipe e Alagoas, tendo como destinos turísticos as cidades de Canindé de São Francisco e Piranhas, respectivamente.
O destaque maior fica por conta de Piranhas, pela ótima infraestrutura turística que a cidade dispõe e, principalmente, pela magnitude do seu belo centro histórico.
Melhor época para a visita
Diferentemente do litoral brasileiro, que para ser visitado necessita de sol, a Rota do Cangaço se dá em região seca, de caatinga, onde as temperaturas são bem elevadas.
Assim sendo, a melhor época para visitar sua região é durante a época da seca, que ocorre entre junho e setembro. Período em que as temperaturas caem e as trilhas pela caatinga se tornam mais suaves.
Apesar de curta, a trilha do Angico pode surpreender pelo calor e se tornar muito desgastante para pessoas com menos preparo físico.
3 passeios pela Rota do Cangaço
Os mais famosos passeios que percorrem a Rota do Cangaço são realizados em catamarãs que saem do porto de Piranhas. São duas empresas diferentes que levam seus turistas para seus maravilhosos espaços e restaurantes às margens do Velho Chico, proporcionando também duas trilhas distintas que levam até a Grota do Angico. Confira cada um e suas diferenças:
1. Passeio de Catamarã pela Rota do Cangaço Angicos
O charmoso catamarã São Francisco realiza o passeio que refaz o percurso original que a volante alagoana fez no dia 28 de julho de 1938.

Tudo começa no porto de Piranhas, com o catamarã zarpando e navegando por belas paisagens do Baixo Rio São Francisco até o Espaço Ecológico Angicos.
Este é um lugar mais que especial e que proporciona instalações deliciosas, com uma prainha privativa de águas cristalinas, amplo restaurante com vistas especiais, tobogã aquático, área VIP com lounges, redários, espaço infantil e o que há de melhor na gastronomia sertaneja.
O detalhe é que o Espaço Angicos foi o local onde a volante desembarcou e sua trilha até a Grota do Angico é a original, com 680 metros de caatinga selvagem. Portanto, foi por ela que os policiais alagoanos caminharam para emboscar Lampião e seu bando.
A trilha é guiada por um cangaceiro trajado, que narra o episódio completo com muita destreza, despertando um interesse autêntico dos viajantes.
2. Passeio de Catamarã pela Rota do Cangaço Eco Parque
A outra opção de passeio pela Rota do Cangaço navega pelo mesmo curso do rio, mas realiza sua parada mais adiante e em outro espaço, o Cangaço Eco Parque.

O lugar é encantador e super preparado para receber os turistas com muito conforto e oferece diversas opções de atividades de lazer, como área infantil, tobogã aquático, redários, área VIP com lounges e parede de escalada.
Mas o maior destaque está na prainha de águas cristalinas, cercada por uma paisagem lindíssima, um ótimo bar e o restaurante às margens do rio, que serve deliciosos pratos regionais.
Quanto a parte histórica, a trilha que vai até a Grota do Angico não é a original e possui 1.250 metros de extensão. Nela, um cangaceiro vestido a caráter guia os turistas e também conta sua versão da história do cangaço e de como morreram Lampião e Maria Bonita.
3. Passeio de lancha pela Rota do Cangaço, Ilha do Ferro e Entremontes

Além dos passeios em catamarãs, a Rota do Cangaço pode ser explorada em passeios de lanchas de diversos tipos, com opções coletivas e privativas. E as lanchas podem escolher o local de parada, se o Espaço Angicos ou o Cangaço Eco Parque.
Diferente desses passeios tradicionais, este passeio visita outros dois lugares onde se produz arte genuína em Alagoas: Entremontes e Ilha do Ferro. Sendo uma alternativa mais completa que os roteiros anteriores.
Além de parar em um dos espaços da Rota do Cangaço, conhecer a Grota do Angico e toda a história que a cerca, ele ainda leva os turistas para dois lugares encantadores de cultura extraordinária e muita arte: Entremontes e Ilha do Ferro.

Após a parada na Reserva Ecológica Angicos ou no Cangaço Eco Parque, conforme escolha dos turistas, o passeio segue navegando para Entremontes, a capital alagoana do bordado. O povoado é distrito de Piranhas e possui um lindo centro histórico, com igreja secular e casinhas coloniais coloridas, um verdadeiro espetáculo de arquitetura.
Todavia, no que diz respeito aos seus habitantes, basta dizer que produzem pontos de bordados genuínos, conhecidos como ponto de cruz, redendê e boa noite, muito famosos e de uma peculiaridade só vista lá.
Em seguida a navegação continua e chega na Ilha do Ferro, mais uma vila pitoresca localizada na margem alagoana do Baixo Rio São Francisco. Suas ruazinhas são emolduradas por casinhas coloridas e seus habitantes são exímios escultores, produzindo um estilo de escultura em madeira muito especial.

A Ilha do Ferro possui um museu que pode ser visitado pelos turistas, que reúne um acervo impressionante e que narra a história do seu povo por meio da arte. Ao andar pelas ruas da Ilha do Ferro, é muito comum encontrar artistas esculpindo na porta das suas casas, oportunidade única de adquirir uma obra de arte feita na hora!
Viajar para o sertão nordestino é uma riqueza sem tamanho, oportunidade de aprender sobre culturas genuínas e conhecer histórias populares que são verdadeiras relíquias. Sem contar o povo que vive lá, de uma simpatia e valores humanos que impressiona.
Agora que você já sabe sobre as principais informações a respeito da Rota do Cangaço no Baixo Rio São Francisco, conheça também os Cânions do Xingó, outro trecho do Rio São Francisco e que faz parte da região entre Piranhas e Canindé de São Francisco.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com