
Postado dia 11/09/25 | 4min. de leitura
Lavagem do Bonfim: tradição, fé e cultura viva em Salvador
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A Lavagem do Bonfim é uma das mais importantes e tradicionais festas religiosas do Brasil e costuma movimentar anualmente mais de 2 milhões de pessoas.
O evento, que reúne elementos católicos, das religiões de matriz africana e do profano, é uma das maiores atrações turísticas de Salvador, acontecendo sempre na quinta-feira após o primeiro domingo que sucede o Dia de Reis (6 de janeiro).
A Igreja do Bonfim se torna o personagem central da cidade, recebendo um longo cortejo, missa, a lavagem propriamente dita da sua escadaria e a festa profana que ganha as ruas da Cidade Baixa, entre os bairros do Bonfim e do Comércio.
Continue conosco e saiba os detalhes desse festejo baiano tão reverenciado na cultura brasileira!

A origem da devoção ao Senhor do Bonfim em Salvador
A cidade de Salvador nasceu Católica e desde sua fundação em 1549, teve no culto aos santos seu expoente religioso, marcado por fortes tradições ibéricas e medievais.
As festas no interior das igrejas costumavam se espalhar pelos adros, escadarias e tomavam as ruas da cidade por meio de procissões ornadas com imagens, joias, flores e fiéis de diversas irmandades e confrarias.
O culto ao Senhor do Bom Jesus do Bonfim em Salvador, ou Senhor do Bonfim como os baianos o chamam, nasceu no ano de 1740, quando o português e Capitão de Mar e Guerra Theodozio Rodrigues de Faria chegou à cidade.
Devoto fervoroso do Senhor do Bonfim, ele trouxe consigo uma imagem do santo com 1,06 metro de altura. Com a permissão do arcebispo Dom José Botelho de Matos, a imagem foi exposta à veneração pública.
A chegada de Theodozio em Salvador foi terrível, marcada por um naufrágio do qual ele sobreviveu. Em agradecimento à graça recebida, dedicou sua devoção ao Senhor do Bonfim e, junto com outros portugueses, fundou a irmandade Devoção de Nosso Senhor do Bonfim, inicialmente sediada na Igreja da Penha. Portanto, atribui-se a ele a implantação do culto e a devoção ao Senhor do Bonfim na cidade.
A Igreja de Nosso Senhor do Bonfim teve sua construção iniciada em 1746, um ano após a criação da irmandade. Inicialmente, ela era conhecida como Capela do Alto do Monte Serrat, local que após a prática do cortejo da Lavagem do Bonfim, passou a se chamar Colina do Bonfim.
A obra da igreja foi finalizada no dia de São João, 24 de junho de 1754, quando a imagem do Senhor do Bonfim foi transportada da Igreja da Penha para a sua igreja própria e recém inaugurada.

A origem da lavagem da escadaria do Bonfim
Quanto à origem da Lavagem do Bonfim, não se sabe exatamente a data de quando começou, somente que ela é tributária do séc. XIX. São diversas teorias, todas associadas a promessas e graças alcançadas por brancos e pretos sob intermédio do Senhor do Bonfim.
Entre as promessas mais comuns da cultura religiosa luso-brasileira, têm-se por destaque a de lavar, varrer e enfeitar igrejas e altares. Todavia, é muito difícil precisar detalhes sobre a origem da festa, somente que adeptos do candomblé tinham por costume lavar a escadaria da igreja em razão da Arquidiocese de Salvador tê-los proibido de limpar o interior do templo.
O ritual incomodava as autoridades eclesiásticas, pois incluía elementos africanos, como música, dança, comida e bebida em abundância, o que era concebido como blasfêmia ou paganismo.
Assim, até hoje a lavagem ocorre na escadaria, no adro e tem as portas da igreja fechadas. As baianas então despejam água de cheiro e realizam o ritual ao som de toques e cânticos do candomblé.

A Festa do Bonfim na atualidade
O cortejo da Lavagem do Bonfim sai da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde acontece um Culto Ecumênico às 08:00. Em seguida, vai a pé e percorre aproximadamente 8 quilômetros até a Igreja do Bonfim, que no sincretismo religioso, é Oxalá.
Assim, devotos da fé católica, do candomblé, de alguns blocos de carnaval, a exemplo do Afoxé Filhos de Gandhy, turistas e soteropolitanos seguem juntos sob a liderança das famosas baianas, que são representantes de religiões de matriz africana e também católicas.
Vestidas de branco e com seus adereços típicos, vasos nos ombros e vassouras nas mãos, elas conduzem os fiéis até a escadaria da Igreja do Bonfim.
É o momento de despejar a água de cheiro dos vasos e lavarem a escadaria da igreja ao som de atabaques, palmas, cânticos de origem africana e muita alegria. Ao término do ritual, as portas da igreja são abertas para a celebração de uma missa ao final da manhã.
Após o momento religioso, a festa continua em toda a extensão do percurso realizado pelo cortejo entre as duas igrejas, tendo como expoente o Largo do Bonfim, que é completamente tomado pelo público.
Muita música, dança e gente de todas as crenças e cores se misturam, aproveitando as comidas típicas da Bahia e as bebidas servidas nas barracas montadas.

Exemplo da Lavagem do Bonfim para o mundo
Após os séculos de colonização escravista, senhorial e patriarcal, formou-se em Salvador uma sociedade excludente e de grande desigualdade, não somente econômica, como também de direitos.
Nela, a estratificação se balizou no racismo do gradiente de cor, que associava o preto a tudo o que não era bom e primava pelo conceito de quanto mais claro, melhor.
A Lavagem do Bonfim se pauta centralmente no sincretismo religioso, uma maneira que os escravizados de origem africana encontraram de cultuar seus orixás associando-os aos santos católicos.
É uma festa popular que demonstra toda a força e resistência dos que sofreram na pele as mazelas da escravidão. Apesar de tudo, Salvador brilha neste dia, com pessoas de todas as cores e dos mais variados credos, juntos celebrando a paz.
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