Igreja do Senhor do Bonfim: leia e faça sua visita

Em qualquer lista sobre o que fazer em Salvador, sempre deve haver espaço para uma visita à Igreja do Senhor do Bonfim. Esse importante templo católico, chamado também de Igreja Basílica de Nosso Senhor do Bonfim ou simplesmente Igreja do Bonfim, é um verdadeiro marco religioso, mas também arquitetônico da cidade.

A igreja é repleta de mitos e lendas, e sua história se funde à resistência de um povo escravizado, que manteve firme suas crenças e fé por meio de um sincretismo muito presente que permeia toda a sua atmosfera.

A Igreja do Bonfim e sua história

A devoção ao Senhor do Bonfim iniciou-se em Setúbal no ano de 1669, quando uma ermida foi construída com o nome de Anjo da Guarda. Por razão desconhecida, tal monumento passou a ser chamado de Senhor do Bonfim e sua devoção foi impulsionada por Dom João V, quando o mesmo fez promessas a Ele pela recuperação da saúde do rei Dom Pedro II, seu pai.

Theodózio Rodrigues de Faria era capitão da Marinha Portuguesa e devoto do Senhor do Bonfim. Ele esteve em situação difícil no mar durante uma tempestade, momento em que fez uma promessa: se sobrevivesse, levaria ao Brasil as imagens do Senhor do Bonfim e da Nossa Senhora da Guia. 

E assim o fez em 1740, quando levou de Setúbal para Salvador uma réplica da imagem do Senhor do Bonfim, que por sua vez motivou a construção do famoso templo em 1746, mesmo ano em que iniciou-se a devoção e culto a Ele e a Nossa Senhora da Guia. Para tanto, foi criada uma irmandade de leigos que logo foi reconhecida pelo Arcebispo Dom José de Matos.

No ano de 1772, com a finalização das duas torres, a igreja foi concluída e no ano seguinte, passou a acontecer a festa litúrgica celebrada no segundo Domingo da Epifania (2º domingo de janeiro). 

Quanto à lavagem da sua escadaria, não é possível precisar quando iniciou, apenas que ela esteve associada desde sempre às graças alcançadas por meio de promessas ao Senhor do Bonfim, tanto de brancos como de pretos. 

Uma das promessas mais comuns em Portugal era a de lavar, varrer e enfeitar as igrejas, algo que muito provavelmente foi herdado em Salvador. 

Outro fato histórico é que adeptos do candomblé costumavam lavar a escadaria da igreja por terem sido proibidos de limpar o interior pela Arquidiocese de Salvador. A junção das promessas e o costume da lavagem das escadarias se tornou uma das mais célebres festas do país, a famosa Lavagem do Bonfim.

Segue sua cronologia conforme o pesquisador Paulo Ormindo David de Azevedo, autor do Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC):

• 1740: Iniciada a construção. O santuário de peregrinação foi instituído por Theodozio Rodrigues de Faria, capitão da Marinha Portuguesa; 

• 1745: Criada a Irmandade do Senhor do Bonfim; 

• 1754: Terminada a igreja, faltando concluir as torres; 

• 1772: Ficam prontas as torres. A igreja nesta época só possuía uma porta;

• 1804: Abertas duas novas portas na fachada; 

• 1814/1821: Retábulo neoclássico da capela-mor é realizado por Antônio Joaquim dos Santos; 

• 1816/1817: São executados neste período, por Antônio de Santa Rosa, entalhador, o teto da capela-mor, suas tribunas, o arco cruzeiro e dois altares colaterais; 

• 1817/1818: São executados os altares da nave pelos entalhadores José Nunes de

Santa Ana, Feliciano Antônio da Rocha e João Francisco de Matos; 

• 1818/1820: Antônio Joaquim Franco Velasco pinta o teto da nave e painéis sobre a Paixão de Cristo; 

• 1820/1821: Execução da talha da sacristia por Antônio de Souza Santa Rosa;

• 1836/1837: Joaquim Francisco de Matos executa molduras para painéis da sacristia e corredores; 

• 1849: Construída nova torre do lado do Evangelho; 

• 1873: Colocados azulejos na fachada, do tipo industrial, de fabricação portuguesa

para facilitar a conservação; 

• 1896: Executada nova torre do lado da Epístola. Construção em alvenaria de pedra e tijolo. Fachada parcialmente revestida de azulejos.

• 1942: Obra de caiação e iluminação externa;

• 1944: Pintura geral, modificação da instalação elétrica e restauração do altar-mor pelo IPHAN;

• 1956: Obras de estabilização, restauração e conservação dos telhados, forros e pisos. Restauração de seis telas, trabalho financiado por um devoto;

• 1959: Foi substituído todo o madeiramento da cobertura e retelhamento com telha cerâmica industrial.

O que faz a Igreja do Senhor do Bonfim ser tão famosa

Anualmente, milhares de pessoas se dirigem à Igreja do Senhor do Bonfim para acompanhar a famosíssima lavagem da escadaria.

O evento é um dos motivos desse templo ser tão famoso.

Não podemos esquecer do icônico gradil no qual as fitinhas se mantêm amarradas.

Entre todos os destinos brasileiros famosos, há quem escolha Salvador simplesmente para também colocar sua fitinha do Bonfim ali, e tirar uma foto que já é praticamente obrigatória durante a visita.

O que ver na Basílica do Senhor do Bonfim

Não há como negar a beleza dessa igreja, tratando-se de uma herança colonial que ainda hoje mantém intactas muitas de suas características. Esse monumento soteropolitano tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), possui inúmeros azulejos de Lisboa com cenas da vida de Jesus.

Sua fachada é parcialmente revestida de azulejos portugueses brancos de 1873, que oferecem belo contraste com a pedra morena dos demais elementos encontrados na mesma. 

O teto da nave e os painéis inspirados na Paixão de Cristo foram pintados por Franco Velasco, já os painéis da sacristia e sete dos 34 existentes nos corredores, foram produzidos por José Teófilo. 

Quanto às pinturas “A Morte do Pescador” e “A Morte do Justo”, são atribuídas a Bento José Rufino Capinam e ao seu filho, Tito Nicolau. Na imaginária, destaca-se o belo crucifixo com cruz de ébano e adornos em prata. 

A Sagrada Colina

Mesmo para quem não é católico, à Igreja do Senhor do Bonfim é indispensável.

Você sabia que Salvador possui centenas de igrejas católicas e que a Igreja do Bonfim está no topo da lista dos mais importantes?

O melhor de tudo é que ela possui uma ótima localização no alto de um morro conhecido como “Sagrada Colina”.

Trata-se de uma área gramada com um lindo paisagismo, o que torna sua visita ainda mais gostosa para quem pensa em realizar um piquenique.

Como chegar à Igreja do Bonfim

Ela é facilmente localizável por meio de um GPS e você pode chegar até lá solicitando um táxi ou mesmo utilizando o transporte público, cujas linhas de ônibus saem facilmente do Terminal da França.

Caso prefira, porém, poderá solicitar um serviço de transfer, que irá te buscar no hotel e te levará até essa atração turística e outras do seu interesse.

Outros atrativos próximos à Igreja Basílica do Senhor do Bonfim

Da igreja até o Pelourinho são apenas 20 minutos de carro, mas ela está bem próxima da fantástica Ponta do Humaitá, da Igreja da Boa Viagem e do antigo porto de Salvador, onde estão outros importantes monumentos históricos da cidade, a exemplo do Mercado Modelo. Neste último local de arquitetura especial é possível comprar obras de arte e souvenirs da Bahia.

Bem próximo do Mercado Modelo está a imponente Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, uma das mais antigas da cidade e que guarda em seu interior as ruínas da sua segunda edificação, datada do séc. XVII. Acima do Elevador Lacerda, que está em frente ao famoso mercado, ficam a Praça Tomé de Sousa e a Praça Castro Alves.

Caso queira “dar uma esticada” mais considerável, é possível ir até a Praia do Forte, sendo que o percurso a partir da basílica é de aproximadamente 01:30 de carro. 

Ou seja, é perfeitamente possível criar um roteiro riquíssimo, no qual tanto essa importante igreja católica quanto outros pontos turísticos de Salvador e arredores sejam contemplados.

Mais informações sobre a Igreja do Bonfim em Salvador

• Horário das missas: segunda, 07:30, 11:00 e 17:00; terça a quinta e sábado, 07:30, 09:00, 11:00 e 17:00; sexta-feira, 06:00, 07:00, 08:00, 09:00, 11:00 e 17:00; domingo, 06:00, 07:30, 09:00, 11:00, 15:00 e 17:00.

• Visitação: segunda, quinta e sábado, das 07:00 às 18:00; sexta e domingo, das 05:30 às 18:00.

• Endereço da Igreja do Bonfim: Praça do Senhor do Bonfim, s/n, Bonfim, Salvador.

O estado da Bahia é muito rico culturalmente e para entender melhor o tema, conheça alguns fatos interessantíssimos da cultura baiana que enriquecerão ainda mais a sua viagem.

Bibliografia

AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v.1. Monumentos do Município de Salvador, 1975-2002. 7v.

FLEXOR. Maria Helena Ochi. Igrejas e Conventos da Bahia. Parte II. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2010.

Por Márcio Vasconcelos de O. Torres

Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com