
Postado dia 12/05/25 | 7min. de leitura
Raso da Catarina: como chegar e o que fazer na região
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O Raso da Catarina é uma ecorregião localizada entre os municípios de Canudos, Paulo Afonso e Jeremoabo, ao norte do estado da Bahia e próximo ao Vale do Rio São Francisco. São 38.000 km ² de área cujo relevo é plano e de solo pouco fértil, com predominância do bioma caatinga e formação de cânions secos em seu lado oeste.
Trata-se da região mais seca do sertão baiano, com pouca chuva e temperaturas que chegam a 43º C. Seus rios não são permanentes e costumam estar secos na maior parte do ano, restando alguns açudes onde o lençol freático se aproxima mais da superfície, garantindo assim a dura sobrevivência da população local.
Toda essa condição geográfica de difícil acesso e permanência esconde lindas revoadas de araras-azuis-de-lear, paisagens inóspitas repletas de cânions e paredões de rocha, além de muita história, tanto do lado de Canudos como de Paulo Afonso.

Raso da Catarina
A lenda por trás do nome
O nome Raso da Catarina é uma homenagem à proprietária da Fazenda Catarina, cuja lenda afirma que lutou contra a seca até que uma nuvem de gafanhotos devorou suas plantações, levando-a à loucura, à solidão e à morte.
Segundo contam, o espírito de Catarina continua presente na região, ajudando vaqueiros a encontrar animais perdidos.
Rica biodiversidade e sociedade indígena
A caatinga predominante na região é do tipo arenosa, repleta de milhares de espécies de arbustos e plantas como xique-xiques, mandacarus, facheiros, coroas de frade, umbuzeiros e bromélias, sendo lar de centenas de animais exóticos como a arara-azul-de-lear e as onças pintada e parda. Além dos sertanejos, a região abriga também uma comunidade indígena pankararé, conhecida como Baixa do Chico.
Raso da Catarina em Paulo Afonso

O acesso ao Raso da Catarina pela cidade de Paulo Afonso se dá por meio de uma estrada de barro com 32,9 quilômetros, que leva até a Pousada Aconchego do Raso, o ponto de partida de todas as aventuras.
De lá saem passeios liderados por Abdiel, guia nativo da região e proprietário da pousada. O automóvel 4X4 a ser utilizado pode ser o de Abdiel ou do próprio turista. Lembrando que as trilhas arenosas não são acessíveis a carros sem tração nas 4 rodas.
Existem algumas opções de passeios por lá, mas o mais comum é o que leva os turistas para assistirem à revoada da arara-azul-de-lear. Com saída às 04:00 da pousada, o passeio percorre aproximadamente 30 quilômetros de trilhas arenosas até a comunidade indígena pankararé, guardiões do Cânion Seco da Baixa do Chico.

Trata-se de um vale repleto vegetação de caatinga e alguns trechos mais densos, apresentando grandes facheiros, umbuzeiros, umburanas e outras árvores típicas do sertão.
A trilha possui 12 quilômetros de extensão em meio à vegetação e corta paredões de rocha de arenito-calcário dos dois lados, com formações exóticas, incluindo diversas fendas onde as araras-azuis fazem seus ninhos.
Outra opção de passeio interessante é sair da pousada à tarde para observar o retorno das araras-azuis aos seus ninhos, que inclui o lindo pôr do sol da região e a luz mágica do entardecer sobre os cânions.
Uma boa dica é dormir pelo menos uma vez na Pousada Aconchego do Raso, podendo ser na noite anterior à saída ao alvorecer do dia, ou na noite seguinte ao passeio do pôr do sol.

Onde se hospedar em Paulo Afonso
Para quem vai a Paulo Afonso com o objetivo de visitar o Raso da Catarina, nossa dica é se dirigir direto para a Pousada Aconchego do Raso, em razão de estar mais próxima do objetivo e por ser de lá que saem os passeios.
A pousada possui ótima infraestrutura, com piscina, quartos amplos e climatizados, ótimo restaurante e excelente café da manhã.
Para quem está a fim de explorar Paulo Afonso como um todo, a cidade possui ótimas opções, como o Hotel Bellavista e o San Marino Hotel, ambos com serviço excelente, piscina e café da manhã completo.

Raso da Catarina em Canudos
Não dá para dizer que quem foi no Raso da Catarina por Paulo Afonso conhece o suficiente.
Em Canudos é tudo muito diferente, a começar pela distância que se percorre para chegar ao “Raso”, que é bem mais curta.
Na verdade, de Canudos se pode avistar os paredões avermelhados, uma paisagem que para os olhos mais atentos, se mostra enigmática e misteriosa.

Porém, é mergulhando em seu interior que a paisagem surreal se manifesta. Imensa, exótica, diferente de tudo o que se conhece no Brasil e porque não dizer no mundo?
É incrível perceber que somente ali, em meio à vasta região plana de caatinga, tais formações se agigantam de maneira tão endêmica quanto a arara-azul-de-lear, que neste lugar indescritível faz seus ninhos.
A sensação é de estar em outro planeta, tanto pela exótica vegetação que se forma nos vales, como pelos paredões de cor avermelhada e viva que circundam em 360º os visitantes que lá chegam.

O passeio para o raso da Catarina em Canudos é liderado por Guilherme, um guia nativo muito engraçado e gente boa, além de profundo conhecedor das trilhas da região. Acontece tanto em automóveis 4X4 dos turistas, como em seu veículo próprio, um jeep dos anos 60 movido a gás de cozinha, uma pérola que torna a aventura ainda mais genuína.
Assim como o passeio matinal que sai da Pousada Aconchego do Raso em Paulo Afonso, ocorre o mesmo em Canudos.
O guia Guilherme busca os turistas nas suas pousadas ainda de noite e seguindo pela curta trilha arenosa até um bom local onde se pode admirar o sol nascendo e a revoada das araras.

Neste passeio, tudo se revela mágico, desde as cores do alvorecer, à paisagem “marciana”, o voo das araras e as histórias engraçadas contadas pelo guia mais “figuraça” da região.
Destaque também para o importante trabalho desenvolvido pela Fundação Biodiversitas, que investe na proteção de espécies da fauna e da flora dos ecossistemas brasileiros.
A instituição possui uma reserva na Estação Ecológica de Canudos e desenvolve o Programa para Conservação da Arara-azul-de-lear, tendo grande responsabilidade no crescimento gradativo da sua população.
Onde se hospedar em Canudos

Canudos possui boas opções de hospedagem, a exemplo do recém inaugurado Hotel Os Sertões, que oferece quartos amplos, modernos e climatizados, além de ótima localização logo na entrada da cidade.
Para quem busca se hospedar em um ambiente ligado à natureza, a Pousada Pôr do Sol é um espetáculo, já que está situada em um local privilegiadíssimo e oferece uma vista espetacular do Lago do Cocorobó e da Serra do Cocorobó.
O Parque Estadual de Canudos

Mas não esqueçamos que Canudos é um lugar histórico e de imensa relevância para o Brasil, portanto, que oferece muitas atrações, tanto naturais quanto histórico-culturais.
Lembrando que a história de Canudos é ensinada nas escolas de todo o país e figura nos principais manuais didáticos de História do Brasil.
Visitar Canudos também é uma ótima maneira de conhecer um pouco da sua triste história in loco. Para tanto, é imprescindível realizar o passeio guiado ao Parque Estadual de Canudos, um teatro da guerra composto por locais utilizados como acampamentos militares, por conselheiristas e marcados por violentos combates.

O parque abriga, portanto, valiosos sítios históricos, arqueológicos e antropológicos, sendo um museu a céu aberto.
Ele é todo demarcado e costuma receber pesquisadores e visitantes em busca do turismo histórico, podendo visitar uma exposição museográfica com a presença de painéis em vidro que exibem fotografias que retratam a guerra de Canudos, além dos descendentes de conselheiristas.
Nele, o visitante poderá conhecer a Casa dos Saberes Conselheiristas, que oferece exposições fotográficas e muito conhecimento a ser adquirido em suas salas e corredores. O local também costuma hospedar pesquisadores que necessitem permanecer mais tempo no parque.

A grande área do parque apresenta o Vale da Morte, onde estão sepultados militares mortos; o Alto do Mário ou do Maia; a Fazenda Velha, onde morreu o coronel Antônio Moreira César, comandante da terceira expedição; os Pelados; Acampamentos Militares e o Alto da Favela, trincheira conselheirista que esteve ativa até 28 de junho de 1897 e de onde se pode ver parte das ruínas da segunda Canudos, submersa nas águas do açude Cocorobó.
O Parque Estadual de Canudos é administrado pelo Campus Avançado de Canudos da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, e sua entrada é gratuita.
Como chegar ao Raso da Catarina
O Raso da Catarina fica a 58 km da cidade de Paulo Afonso, que abriga a melhor infraestrutura turística da região, com aeroporto, rede hoteleira e podendo ser acessada a partir de Salvador.
De avião, a viagem entre Salvador e Paulo Afonso dura 01:20 (é preciso verificar se os voos entre Salvador e Paulo Afonso estão acontecendo). De carro, são 470 quilômetros pelas rodovias BR-324 e BR-110 ou 07:30 de viagem.
Para quem deseja ir ao Raso da Catarina em Canudos, a cidade se encontra a 408 quilômetros de Salvador, sendo acessada pelas rodovias BR-324 e BR-116, para uma viagem de aproximadamente 06:10.
Para quem vai de ônibus, a empresa Rota disponibiliza dois horários em ônibus convencional: às 06:00 e às 9:00, para uma viagem de 08:20. E também um horário em ônibus executivo às 21:30, para uma viagem de 06:50 de duração.
Por fim, há também a opção de ir utilizando o serviço de transfer, tanto para Paulo Afonso como para Canudos. A viagem acontece em automóveis novos e climatizados, oferecendo mais conforto e velocidade, com um receptivo buscando os turistas no desembarque do aeroporto ou no hotel onde estiver hospedado.
Curtiu este artigo? Agora que você já entendeu o que é preciso para conhecer os principais pontos do raso da Catarina, conheça agora os Cânions do Xingó, uma região riquíssima em belezas naturais e bem próxima de Paulo Afonso e Canudos que você não pode perder!
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com