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São Félix na Bahia: destino escondido no Recôncavo Baiano

Postado dia 10/03/25 | 9min. de leitura

São Félix na Bahia: destino escondido no Recôncavo Baiano

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São Félix é mais uma pérola a ser desvendada pelo turismo de experiência no Recôncavo Baiano. Localizada na margem direita do Rio Paraguaçu e separada da ilustre vizinha Cachoeira pela magnífica Ponte Imperial D. Pedro II, a cidade possui um Centro Histórico riquíssimo em monumentos diversos, que possibilitam verdadeiras aulas de campo.

São igrejas seculares, casarões coloniais lindíssimos, antigas fábricas de charutos, uma bela casa de câmara e cadeia, e uma estação ferroviária que, ao longo do séc. XIX, conectou a cidade aos sertões auríferos e à Chapada Diamantina.

Orla de São Félix casarões históricos charutaria dannemann Recôncavo Baiano
A bela orla de São Félix repleta de casarões históricos e o esplêndido Rio Paraguaçu

Nas ruas estreitas de paralelepípedo, casinhas coloridas e sobrados imponentes remontam ao grande poderio econômico gerado, principalmente, pela lavoura do fumo. 

Tal paisagem proporciona uma atmosfera fantástica, tornando uma simples caminhada em um passeio extraordinário.


Por Márcio Vasconcelos de O. Torres

Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com


Um pouco sobre a história de São Félix

Livro mapas João Teixeira Albernaz 1620 Recôncavo Baiano
Página do livro de mapas de João Teixeira Albernaz, publicado em 1640

A região do Recôncavo Baiano em torno do Rio Paraguaçu era habitada pelos tupinambás, que possuíam aproximadamente 20 palhoças na sua margem direita, onde hoje está a cidade de São Félix. 

Sabe-se que no ano de 1558, Mem de Sá adentrou pelo Paraguaçu levando o terror aos autóctones, conquistando terras por meio de grande violência, mortandade e escravização de indígenas.

Mas foi somente com o desenvolvimento do Porto de Cachoeira na segunda metade do séc. XVI, que surgiu o primeiro povoado na margem oposta do Paraguaçu. Já no final do séc. XVIII, São Félix era um povoado subordinado à Vila de Cachoeira, e em 1838, se tornou freguesia sob a nomenclatura de Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo.

Um ano depois, aconteceu uma grande enchente no Rio Paraguaçu, destruindo muitas casas na recém criada freguesia. Em 1857, uma nova freguesia foi criada como distrito de Cachoeira, desta vez com o nome de Senhor Deus Menino.

Ainda como distrito de Cachoeira, viu seu cais ser construído e também a Ponte D. Pedro II, inaugurada em 1885. A ponte facilitou o progresso de São Félix de tal maneira, que poucos anos depois a freguesia foi elevada à categoria de vila, se desmembrando de Cachoeira. Não demorou muito para se tornar cidade, o que ocorreu em 1890.

Centro Histórico São Félix
Centro Histórico de São Félix em meados do séc. XX - Reprodução / Inventário IPAC

O fato de suas terras estarem sobre um tabuleiro alto e pouco propício para a cana-de-açúcar, fez com que se tornasse parte do Recôncavo de Subsistência, se destacando a lavoura de mandioca e também o fumo. 

Sua localização privilegiada como saída para os sertões a tornaram um ponto de parada para os tropeiros que se dirigiam até Muritiba e, posteriormente, à região aurífera de Rio de Contas, Minas Gerais e Goiás. Assim, a circulação de grande riqueza em ouro, fumo e diamantes lhe favoreceu importante atividade comercial.

No mesmo ano da inauguração da Ponte D. Pedro II, três grandes fábricas de charutos se instalaram na cidade, sob a tutela das famílias Dannemann, Simas e Cardoso. Essa reestruturação econômica ocorreu após a cidade ser arrasada por um surto de cólera e o envio de soldados para a Guerra do Paraguai.

O que fazer em São Félix: 8 lugares imperdíveis

A primeira coisa que costumo fazer ao chegar em São Félix, é subir até o Mirante da Cruz. É o topo da sua geografia, o local onde foi instalada uma grande cruz que pode ser vista desde Cachoeira. 

A vista lá de cima é extraordinária e possibilita ter um entendimento da região, bem como avistar a maioria dos monumentos históricos, tanto de Cachoeira na margem oposta, como de São Félix mesmo.

Agora confira as principais atrações da cidade que podem ser visitadas em um único dia:

1. Igreja Senhor São Félix

Igreja Senhor São Félix Recôncavo Baiano
A Igreja Senhor São Félix em meio a casarões coloniais no centro histórico de São Félix

A Igreja Senhor São Félix teve sua obra iniciada no fim do séc. XVIII e foi concluída apenas no século seguinte. Está situada em uma esquina entre a Praça João Pessoa e a Rua J. J. Seabra, por onde passava a antiga linha férrea da Rede Ferroviária Federal.

A igreja está elevada cerca de dois metros sobre a praça e possui uma dupla escadaria que dá acesso ao adro que a antecede. Possui nave, capela-mor, corredor lateral e sacristia, além de tribunas superpostas. Seu telhado é de duas águas e apresenta uma torre com sineira em formação piramidal. A igreja conserva as imagens do Senhor São Félix, de Jesus Menino, do Senhor dos Passos, Santo Antônio e N. Sra. do Rosário.

2. Igreja Matriz Deus Menino

Igreja Matriz Deus Menino São Félix Recôncavo Baiano
A bela Igreja Matriz Deus Menino em São Félix

A Igreja Matriz Deus Menino foi construída no final do séc. XVIII e possui fachada típica em rococó. Em sua nave está uma bela capela-mor flanqueada por corredores laterais e sacristias superpostas por galerias de tribunas e consistórios.

A igreja está localizada no meio da Praça Manoel Vitorino, próxima à Ponte D. Pedro II que liga São Félix à cidade de Cachoeira. De lá é possível avistar ao fundo o belo Rio Paraguaçu e todo o conjunto arquitetônico colonial das duas cidades. Na igreja ainda estão conservadas as imagens de N. Sra. do Rosário e do Cristo Crucificado.

3. Mercado Municipal de São Félix

Mercado Municipal de São Félix
O Mercado Municipal de São Félix

Conforme data assinalada no portão de ingresso do edifício, sua edificação se deu em 1902. O Mercado Municipal de São Félix está localizado na Rua J. J. Seabra, possui planta trapezoidal e amplo espaço central em arquitetura neoclássica, onde os vendedores locais oferecem seus produtos em tabuleiros e lojas em forma de boxes.

Vale lembrar que ir ao Mercado Municipal de São Félix é uma ótima oportunidade de conhecer mais profundamente a cultura do Recôncavo Baiano, desfrutando de todo o colorido dos produtos típicos da região.

4. Sobrado na Avenida Salvador Pinto

Foto antiga Sobrado na Avenida Salvador Pinto São Félix
Foto antiga do Sobrado na Av. Salvador Pinto - Reprodução / Inventário IPAC

Sobrado de oitão construído no final do séc. XIX, possui fachada neogótica imponente e de grande impacto visual na cidade. O neogótico foi introduzido no Rio de Janeiro no início do século passado, mas só se popularizou na segunda metade do mesmo século, após ser relançado pelo arquiteto inglês Johnston. 

Possui dois andares, um sótão superior em formato triangular e um telhado em duas águas. Atualmente, o pavimento térreo é ocupado por instalações comerciais, enquanto o primeiro andar e o sótão são moradias. No interior, o sobrado mantém os assoalhos primitivos e forro em madeira, mas nada resta do seu antigo mobiliário.

5. Fábrica de Charutos Dannemann

Loja Charutaria Dannemann São Félix
A loja no interior da Charutaria Dennemann em São Félix

A Fábrica de Charutos Dannemann de São Félix foi inaugurada em 1873, liderada pelo alemão Geraldo Dannemann. Em 1922, em parceria com a empresa Stender, se constituiu como Companhia de Charutos Dannemann. 

Já no período da Segunda Guerra Mundial, teve seu comércio transatlântico interrompido em razão de embargos econômicos, período em que passou a ser administrada pelo Banco do Brasil. Após a guerra, Geraldo Dannemann voltou a exercer liderança na empresa, que em 1954 abriu falência.

Atualmente a Fábrica de Charutos Dannemann produz charutos e conta com uma bela loja onde são comercializados seus produtos. Também oferece um tour aos turistas onde um funcionário explica a história da empresa, que se funde com parte da história da cidade.

6. Píer Belmiro Peixe e Ponte D. Pedro II

Ponte Metálica Dom Pedro II em São Félix
Ponte Metálica Dom Pedro II em São Félix

O pequeno Píer Belmiro Peixe encanta, pois está situado ao lado da magnífica Ponte D. Pedro II, um verdadeiro cartão postal que atravessa o Rio Paraguaçu, ligando as cidades de São Félix e Cachoeira. Inaugurado em 2020, oferece espaço de lazer com bela área verde onde se pode curtir o dia e aproveitar de um ótimo piquenique. 

O píer também atua como atracadouro de embarcações que zarpam para passeios náuticos e é palco da excelente Associação Sanfelixta de Canoagem, que liderada pelo entusiasta Dino Náutica, oferece aulas de canoagem e projetos sociais de esportes a remo.

Quanto à Ponte D. Pedro II, foi construída no final do séc. XIX, quando a Estrada de Ferro Central da Bahia tinha por finalidade facilitar o escoamento da produção mineral da Chapada Diamantina. Em sua construção foram utilizados modernos equipamentos para a época, como bombas centrífugas, guindastes móveis acionados a vapor e rebitadores hidráulicos. 

Sua estrutura foi considerada a mais importante ponte ferroviária realizada na América do Sul e constitui um dos mais relevantes marcos históricos da engenharia brasileira.

7. Museu Casa Hansen Bahia

Museu Casa Hansen Bahia São Félix
Museu Casa Hansen Bahia em São Félix - Reprodução / Arquivo UFRB

Trata-se da antiga morada do artista plástico alemão Hansen Bahia e que atualmente funciona como museu. O local conserva pertences de Hansen, reconhecido internacionalmente pela obra especializada em xilogravuras. 

O museu funciona de segunda a sábado, das 09:00 às 17:00, sendo possível visitá-lo gratuitamente. De lá, o turista pode observar uma das mais belas vistas da cidade, com o Rio Paraguaçu e a cidade de Cachoeira ao fundo. 

Vale lembrar também que os restos mortais de Hansen Bahia e da sua esposa estão depositados no interior do edifício.

8. Paço Municipal

Paço Municipal São Félix
O Paço Municipal de São Félix

O Paço Municipal de São Félix foi inaugurado em 7 de fevereiro de 1890, tendo sido construído como sede administrativa do município. Localizado na Praça da Bandeira, possui arquitetura imponente e fotogênica, tendo sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) em 2006.

Uma ótima pedida é aproveitar para visitar o Arquivo Público da cidade e a Biblioteca Municipal, ambos localizados na mesma praça do Paço Municipal. 

No Arquivo Público estão documentos antigos da região do Recôncavo, uma oportunidade para pesquisadores profissionais em história e também para turistas que desejam conhecer mais profundamente a história da região.

Bibliografia

AZEVEDO, Paulo Ormindo de. IPAC-BA - Inventário de proteção do acervo cultural: monumentos e sítios do Recôncavo, I parte. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio da Bahia, 1982.

BARICKMAN, B. J. Um contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

PINHO, Wanderley. História de um engenho do Recôncavo. São Paulo: Nacional, 1982. (Original de 1946).

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1974.

Onde se hospedar em São Félix

Pousada Paraguassu São Félix
A Pousada Paraguassu - Reprodução / Instagram @pousada.paraguassu

O grande destaque em termos de hospedagem em São Félix é a Pousada Paraguassu, que está situada bem em frente ao maravilhoso Rio Paraguaçu.

A pousada possui ótimas acomodações, com quartos amplos e climatizados, além de oferecer excelente café da manhã.

Para quem busca uma hospedagem com mais autonomia, os Apartamentos La Buena Vida são especiais e proporcionam cozinhas completas. 

Há também a opção de se hospedar na Pousada Black Power, que possui acomodações econômicas e com bom custo-benefício.

Onde comer em São Félix

Para degustar a maravilhosa gastronomia do Recôncavo Baiano, sugerimos primeiramente o Restaurante Delícias do Recôncavo, que oferece ótimo buffet a quilo, além de pratos executivos.

Agora, se você quer aproveitar o momento da refeição para apreciar uma bela vista, não deixe de conhecer o Restaurante da Pousada Paraguassu, que atende a la carte e oferece diversos pratos e petiscos.

Melhor época para ir a São Félix

Em se tratando de um destino histórico e cultural, São Félix pode ser visitada em qualquer época do ano, faça chuva ou faça sol. Mas se a sua prioridade for viajar para lá em período ensolarado, priorize as estações da primavera e do verão, entre setembro e março. 

Cabe lembrar que as estações de outono e inverno na Bahia também oferecem bons períodos de sol entre as frentes frias que acometem a região nesse período.

Os arredores de São Félix

É importante salientar que o Recôncavo Baiano é recheado de povoados antigos, já que foi a principal sede de produção do açúcar brasileiro durante a colonização portuguesa. Nas cidades vizinhas de Cachoeira, Maragogipe e Santo Amaro existem diversos povoados com igrejas muito antigas e ruínas de engenhos de açúcar, além de grande quantidade de comunidades quilombolas que preservam extraordinária cultura.

Igreja e Convento Santo Antônio do Paraguaçu em Cachoeira
Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, na zona rural de Cachoeira

Sem contar as maravilhas do Rio Paraguaçu, que podem ser acessadas em passeios de barco. 

Destacando a linda Baía do Iguape, onde literalmente brotam da mata ruínas incríveis de igrejas e conventos, além do espetacular Forte Salamina, que guarnecia o Recôncavo de invasores em busca das suas riquezas.

Ao definir o roteiro do passeio de barco, não deixe de realizar uma parada na comunidade de São Francisco do Paraguaçu, onde estão as imponentes ruínas da Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, que por sua vez, possui uma ótima prainha para banho ao lado. 

Vale também contratar o Seu Antônio para um tour guiado pelo convento, já que ele é nativo do povoado e guardião do monumento.

Quanto à gastronomia, o Restaurante de Aline fica bem em frente a prainha e serve as melhores moquecas da região.

Como chegar em São Félix na Bahia

São Félix está a aproximadamente 118 km de Salvador e pode ser acessada facilmente pelas rodovias BR-420 e BR-324. Para quem vai de ônibus, a companhia Cidade Sol disponibiliza diversos horários a partir da rodoviária de Salvador. Os ônibus saem praticamente de hora em hora entre 05:20 e 21:30.

Para uma viagem mais confortável, vale contratar um transfer com uma agência confiável, que te busca no aeroporto ou no hotel onde estiver hospedado em Salvador, para uma viagem de aproximadamente 01:30 em automóveis novos e climatizados.

Agora que você já sabe sobre as principais informações a respeito de São Félix, conheça também todos os detalhes acerca da sua vizinha Cachoeira, uma das mais importantes cidades históricas da Bahia.

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