Terreiro de Jesus: conheça esse largo do Centro Histórico

Porta de entrada do Pelourinho e coração do Centro Histórico de Salvador, o Terreiro de Jesus é uma praça singular e apresenta diversos monumentos históricos de grande relevância. 

Sua origem remete aos primórdios da Cidade da Bahia, como era conhecida a antiga Salvador, além de ponto de partida dos jesuítas para formação de missões de catequese das etnias originárias que lá viviam.

Caminhar por este incrível espaço público é uma das atrações mais incríveis a se aproveitar em Salvador, uma experiência excepcional que se traduz em amplos conhecimentos históricos e culturais sobre o Brasil Colônia, uma verdadeira aula de campo! 

Neste artigo vamos conhecer um pouco da história do Terreiro de Jesus em Salvador, através dos seus imponentes monumentos históricos. Saberemos também sobre suas opções gastronômicas, localização e como chegar, continue conosco!

Por Márcio Vasconcelos de O. Torres

Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com

A origem do Terreiro de Jesus 

Os jesuítas desembarcaram nas terras que viriam a se tornar Salvador juntamente com Tomé de Sousa em 1549. Em paralelo aos atos iniciais da construção do que viria a ser a primeira capital do Brasil, iniciaram os contatos com indígenas da redondeza, em sua maioria tupinambás.

A ideia de promover aldeamentos fazia parte do regimento imposto aos originários, sendo gerido por Tomé de Sousa, homem de confiança de D. João III, o Rei de Portugal. Através da doutrinação religiosa e da “pacificação” dos indígenas, tal regimento também visava tornar mais fáceis os desígnios de invasão e domínio das terras.

Assim, o objetivo das missões jesuíticas era o de converter os indígenas, impondo-lhes uma nova ordem que proibisse a prática da sua fé e religiosidade.

Tal feito os tornariam discípulos subalternos e seguidores da nova ordem social imposta pelo invasor. 

Afinal de contas, tudo pela colonização, pela superação das falhas ocasionadas no modelo das Capitanias Hereditárias e pela organização de um novo sistema administrativo, o Governo Geral do Brasil.

Antes de fundar os primeiros aldeamentos, o dia 13 de abril de 1549 marcou o princípio da escola jesuítica, no mesmo local onde hoje estão a Catedral Basílica e a antiga Faculdade de Medicina da Bahia. Foi o primeiro passo para o povoamento da praça que viria a se chamar Terreiro de Jesus. 

O Colégio de Jesus, como ficou conhecido, foi um dos pilares mais importantes da construção da cidade, tal qual a antiga vila de Diogo Álvares “O Caramuru” e sua esposa tupinambá Catarina Paraguaçu, localizada entre o Farol da Barra e o bairro da Graça. 

Monumentos Históricos no Terreiro de Jesus

O Largo do Terreiro de Jesus inteiro é um grande museu e não tem um edifício sequer que não remeta à história antiga de Salvador. 

Por meio de uma observação minuciosa e fundamentada em estudos históricos, é possível perceber obras arquitetônicas que atravessaram os séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Confira!

Catedral Basílica e antiga Faculdade de Medicina

A primeira igreja jesuíta de Salvador foi construída em 1549 e era de taipa e palha. Houve ainda uma segunda igreja, cuja obra aconteceu entre 1561 e 1572. Nos tempos do Terceiro Governo Geral do Brasil, Mem de Sá comprou o terreno e mandou erigir a terceira igreja, bem como o segundo colégio.

A igreja como conhecemos hoje começou a ser projetada em 1604 e o terceiro colégio foi construído entre 1657 e 1672. Somente em 1691 chegaram as pedras encomendadas em Portugal, quando iniciou nova obra que seria concluída em 1707, com o lindo altar de mármore italiana da sacristia.

A igreja foi transformada em Catedral no ano de 1781 e teve um hospital militar instalado no prédio anexo do antigo colégio no ano de 1808. Tal hospital foi substituído pela primeira Faculdade de Medicina do Brasil, em 1833. 

Portanto, a atual catedral, que é o último remanescente do Colégio de Jesus, possui uma planta retangular e ao seu lado está o edifício da antiga Faculdade de Medicina. 

No interior da catedral se destacam três altares em mármore, sendo dois deles portugueses e um italiano, 16 painéis pintados sobre cobre, arcaz com incrustações de marfim e tartaruga, lavabo em mármore, além de uma cadeira do séc. XVI. Ainda há silhares de azulejos portugueses na capela-mor, que são painéis posicionados entre o chão e o meio da parede.

Igreja de São Pedro dos Clérigos

Inicialmente, a Irmandade de São Pedro dos Clérigos ergueu sua ermida no séc. XVII, ao lado da antiga Igreja da Sé.

Em 1709, receberam licença do Arcebispo D. Sebastião Monteiro da Vide para construir sua nova igreja no antigo quadrado jesuíta, o Terreiro de Jesus. 

A obra só foi concluída por completo em 1887, quando houve acréscimo de mais uma sacristia. O frontispício em rococó é do séc. XIX e no interior apresenta decoração de transição entre o rococó e o neoclássico.

Igreja e Ordem Terceira de São Domingos Gusmão

A imponente Igreja e Ordem Terceira de São Domingos está localizada de frente para a Catedral Basílica, do outro lado do Terreiro de Jesus. À direita e aos fundos, está o Largo do Cruzeiro e a Igreja de São Francisco. 

A Ordem Terceira de São Domingos da Bahia foi fundada em 1723, tendo funcionado provisoriamente no Mosteiro de São Bento e no Hospício da Palma. A construção da igreja foi iniciada em 1731, tendo uma importante missa celebrada em 1737, quando foram concluídos o frontispício e os altares colaterais.

Em 1756, a Ordem Terceira de São Domingos pôde ampliar suas instalações graças a um entendimento com a Ordem Terceira de São Francisco, que cedeu algumas das suas casas.

O interior da igreja é belíssimo e possui inspiração neoclássica, com nave ornada em talhas, piso em mármore italiana e uma bela pintura no teto. Nesta iconografia, o fundador da ordem dominicana, São Domingos Gusmão, aparece com São Francisco e juntos recebem de Jesus Cristo toda a lição católica.

Chafariz do Terreiro de Jesus

O Chafariz do Terreiro de Jesus é considerado o mais belo dentre os chafarizes de Salvador. De inspiração neoclássica, possui alegorias que representam riquezas e características da Bahia. 

No topo, há uma escultura de Ceres, deusa romana dos grãos, da fertilidade e do amor maternal. A base é decorada com taboas, planta também conhecida como morrão-dos-fogueteiros, uma herbácea muito comum no Brasil.

Logo abaixo da primeira bacia de ferro fundido surgem quatro meninas de mãos dadas sobre outra bacia repleta de golfinhos, conchas e guirlandas marinhas. 

Na base, duas esculturas de entidades femininas e duas masculinas representam os rios Jequitinhonha, Paraguaçu, Pardo e São Francisco, quatro dos mais importantes a cortarem as terras baianas.

O Chafariz do Terreiro de Jesus teve sua instalação iniciada em 1855 e foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 1856, dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Na mesma data foram inaugurados outros chafarizes de Salvador, todos eles fazendo parte do extraordinário Sistema de Águas do Queimado, o primeiro de água encanada no Brasil. 

Conjunto de sobrados do Terreiro de Jesus

Em geral, os sobrados existentes no Terreiro de Jesus são do séc. XIX, tendo sido morada da classe dominante baiana composta, principalmente, por senhores de engenho do Recôncavo. Outras categorias abastadas também possuíam casarões por lá, a exemplo de comerciantes, traficantes de escravos e políticos administradores da cidade.

Tais edifícios fazem parte do conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do Centro Histórico de Salvador, um dos mais importantes exemplares do urbanismo ultramarino português. Pela sua importância, foi inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico em 1984, e também na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, em 5 de dezembro de 1985.

Monumentos anexos ao Terreiro de Jesus

Situado ao lado do Terreiro de Jesus e quase como parte do mesmo, está o Largo do Cruzeiro de São Francisco, facilmente identificado pelas notáveis presenças do cruzeiro que lhe empresta o nome, da Igreja e Convento de São Francisco e da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.

Cruzeiro de São Francisco

Instalado em frente à igreja entre 1805 e 1808, o Cruzeiro de São Francisco, que dá nome ao largo, foi todo elaborado em pedra-mármore, sendo uma marca dos edifícios franciscanos da época.

Está assentado sobre um pedestal quadrangular de grandes blocos trabalhados no mesmo material e possui três níveis de degraus. Há ainda uma inscrição em latim alusiva ao seu significado religioso.

Ainda que esteja instalado em praça pública e defronte à Igreja e Convento de São Francisco, o monumento pertence à Igreja da Ordem Terceira de São Francisco.

Igreja e Convento de São Francisco

O convento franciscano foi fundado em 1587 e sua magnífica igreja foi construída entre os séculos XVII e XVIII. Trata-se de uma das mais singulares e ricas obras do barroco brasileiro, com fachada repleta de esculturas em forma de guirlandas e uma imponente portada em pedra ricamente decorada.

Seu interior é esplendoroso, com três naves completamente ornadas por entalhes de jacarandá que retratam animais, anjinhos e flores, tudo coberto em pó de ouro e cuja iconografia requer estudo para entendimento. 

Ainda merecem destaque os painéis de azulejo do século XVIII, que reproduzem, dentre outros temas, o nascimento de São Francisco. Por fim, o teto contém pinturas do Frei Jerônimo da Graça, produzidas entre 1733 e 1737.

Não à toa, o complexo da Igreja e Convento de São Francisco está classificado como uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo.

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco

A Ordem Terceira dos Franciscanos da Bahia foi fundada em 1635, pelo Frei Cosme de S. Damião, com sede no Convento de São Francisco. Em 1644 sua primeira igreja foi erguida, mas se deteriorou, sendo substituída pela atual, cuja primeira pedra foi colocada em 1702 e seu templo inaugurado em 1703. 

Entre 1827 e 1828, sua talha barroca foi substituída por altares neoclássicos. A fachada, que é única no Brasil, lembra o barroco da América Espanhola, e por mais de um século esteve coberta de argamassa utilizada em sua última reforma.

Até que em 1932, um eletricista martelou sua fachada enquanto instalava novas luzes, fazendo o reboco cair e revelando a maravilha original.

A igreja guarda ainda a única azulejaria portuguesa que retrata Lisboa antes do mega  terremoto que ocorreu em 1755, deixando milhares de mortos e destruindo a maior parte da cidade.

Bibliografia

AZEVEDO, Paulo Ormindo de. IPAC-BA - Inventário de proteção do acervo cultural: Monumentos do município do Salvador - Bahia, Vol. I. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio da Bahia, 1975.

BRESCIANI, SJ, Pe.Carlos. A primeira evangelização das aldeias ao redor de Salvador: 1549-1569. Salvador: Fundação Gregório de Mattos, 2000.

FLEXOR, Maria Helena Ochi; FRAGOSO, Frei Hugo. Igreja e Convento de São Francisco da Bahia. Rio de Janeiro:Versal, 2009.

Lemos, Ubirajara Dantas. Colégio dos Jesuítas : 465 anos de história. Salvador :

EDUFBA, 2022.

Gastronomia no Largo do Terreiro de Jesus

O belo Terreiro de Jesus é um celeiro de ótimos e famosos restaurantes, cuja culinária baiana se mescla a elementos refinados e sofisticados, oferecendo também ótimas cartas de vinho e boa variedade de bebidas. 

Caminhando um pouquinho, ainda é possível encontrar uma infinidade de opções gastronômicas especiais ao adentrar no Pelourinho.

• Ó Paí Ó Restaurante: é emblemático e funde artes cênicas, cinema e gastronomia. Fundado por Érico Brás, utiliza o slogan: “Essa culinária é coisa de cinema”, em alusão à participação do ator e gestor do restaurante no filme Ó Paí Ó, estrelado por Lázaro Ramos e Wagner Moura. O restaurante é especialista em gastronomia baiana, mas também proporciona pratos internacionais.

• Cuco Bistrô: de decoração fina e muito charmosa, oferece pratos com o que há de melhor na gastronomia nordestina, mas com influência da cozinha mediterrânea. Além disso, pode-se esperar drinks maravilhosos e sucos especiais de frutas tropicais da Bahia.

• Restaurante Casarão 17: prepare-se para encontrar quase de tudo em um único casarão colonial. Repleto de ambientes aconchegantes, é uma galeria que possui estabelecimentos de moda, arte, música e gastronomia, com a cara do Centro Histórico de Salvador.

Como chegar ao Terreiro de Jesus

Para quem deseja chegar ao Terreiro de Jesus utilizando transporte público, uma opção é tomar algum ônibus para o Terminal da França, que fica ao lado do Mercado Modelo. De lá, deve-se seguir caminhando, subir o Elevador Lacerda e andar mais um pouco à esquerda até o destino final. Outra alternativa é pegar um ônibus para a Praça da Sé, situada ao lado do famoso largo que é tema deste artigo.

Todavia, para uma experiência mais segura e muito mais confortável, vale a pena contratar um transfer de uma agência confiável, que busca o turista no hotel em que estiver hospedado e se desloca em automóvel climatizado.

Já que você chegou até aqui e provavelmente curtiu conhecer um pouco sobre o Terreiro de Jesus, descubra 4 igrejas de Salvador que não podem ficar de fora da sua viagem de jeito nenhum!