
Postado dia 21/06/25 | 4min. de leitura
História do acarajé: tradição e sabor da Bahia
0 comentário
0 curtida
252 visualizações
Entre as comidas típicas da Bahia, o acarajé é, com certeza, a iguaria de maior destaque. O bolinho frito recheado com vatapá, camarão seco e vinagrete é de dar água na boca, além de ser um símbolo cultural, histórico e espiritual. A história do acarajé remonta à África Ocidental, atravessando o Atlântico e se tornando uma representação da resistência e identidade afro-brasileira.
A seguir, você entenderá como esse prato surgiu, sua conexão com o candomblé, seus ingredientes tradicionais e onde provar essa iguaria em Salvador.

Origem do acarajé
A origem do acarajé vem do continente africano, mais especificamente dos povos iorubás da Nigéria e do Benim. A iguaria era chamada akara e preparada em rituais religiosos dedicados a divindades como Xangô e Iansã. O termo “akara” significa “bola de fogo”, uma analogia para o bolinho quente, crocante e frito no azeite.
Com a chegada forçada de africanos no Brasil durante o tráfico transatlântico, o prato foi trazido e adaptado.
Ganhou o nome de acarajé quando chegou aqui, que é uma mistura de “akara” com “je”, que significa “comer”, e passou a ser um alimento produzido e vendido nas ruas por mulheres negras libertas ou escravizadas de ganho, que buscavam formas de sustento.
Na história do acarajé, o candomblé está presente

Além de ser delicioso, o acarajé também é um alimento sagrado nas religiões afro-brasileiras.
No candomblé, ele é uma oferenda aos orixás, principalmente a Iansã, deusa dos ventos e das tempestades, assim como Exu, mensageiro entre os mundos. As oferendas são feitas dentro dos terreiros, com receitas específicas não comercializadas.
Dessa forma, há dois tipos de acarajé:
Ritualístico, preparado sem pimenta ou camarão, e servido nas cerimônias religiosas.
Comercial, que é vendido nas ruas e em estabelecimentos, com recheios e adaptações que variam de acordo com a região.
Mesmo que diferentes, ambos simbolizam a conexão entre a comida, a espiritualidade e a identidade negra. Comer acarajé, portanto, também é uma forma de valorizar essa herança cultural.
Ingredientes tradicionais do acarajé
A base da receita do acarajé baiano é o feijão fradinho descascado e moído, temperado com cebola e sal. A massa é batida até ficar leve e aerada, depois moldada em bolinhos e frita no azeite de dendê, que é um ingrediente essencial da culinária afro-baiana.
Após frito, o bolinho é aberto no meio e pode ser recheado com alguns acompanhamentos. São eles:
vatapá, um creme espesso feito com pão, leite de coco, amendoim, castanha de caju, cebola e azeite de dendê;
caruru, a base de quiabo cozido com azeite de dendê e temperos;
camarão seco;
vinagrete;
pimenta.
É comum as baianas perguntarem se os clientes querem ele “quente ou frio?”, para saber se você quer com ou sem pimenta no recheio.
As baianas do acarajé

A venda do acarajé nas ruas de Salvador começou com as chamadas “negras de tabuleiro”, mulheres em busca de independência financeira após a alforria. Com o decorrer do tempo, elas se tornaram figuras características da cidade, conhecidas por suas roupas brancas, turbantes e colares coloridos.
Hoje em dia, são chamadas de baianas do acarajé, e representam a resistência do povo negro, além de serem guardiãs da cultura afro-baiana.
Em 2004, a profissão foi reconhecida como patrimônio cultural do Brasil pelo IPHAN, o que reforçou ainda mais sua importância histórica e cultural, tanto para Salvador quanto para o país inteiro.
As baianas não só produzem e vendem o acarajé, como também participam de blocos afro, festejos religiosos e movimentos culturais que mantêm vivas as tradições, originalmente africanas.
História do acarajé baiano

O reconhecimento da iguaria como patrimônio nacional ocorreu devido à história desse acarajé baiano e sua conexão com as vivências do povo negro no Brasil, que foram cheias de lutas, adaptações e manifestações culturais que precisaram se camuflar para continuarem sendo perpetuadas.
Nos anos 1990 e 2000, movimentos e acadêmicos começaram a valorizar a culinária de matriz africana, dando destaque ao seu papel na formação da identidade cultural do Brasil. Dessa forma, o acarajé ganhou mais visibilidade como símbolo de Salvador e da Bahia.
Hoje ele é servido e vendido em festas populares, estabelecimentos focados no turismo, e até em roteiros religiosos. Também já se espalhou pelo país, sendo comercializado em outros estados.
A importância do acarajé para o turismo
Além de um enorme valor histórico e religioso, o acarajé também desempenha um papel muito importante na economia, especialmente na Bahia, assim como no turismo do estado. O prato é um dos principais atrativos para quem visita Salvador, trazendo muitos turistas que desejam experimentá-lo em seu local de origem.
Ele também faz parte de roteiros gastronômicos, eventos culturais e festividades religiosas como a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá. Além disso, é muito comum presenciar a iguaria sendo vendida em diversas praias da cidade, o que é uma ótima oportunidade de aproveitar o sol, o mar e se deliciar com o prato.
Onde comer acarajé em Salvador

Provar o acarajé mais autêntico de todos na capital baiana é uma das atividades principais para quem visita a Bahia. A cidade oferece diversas opções, e até mesmo versões modernas do prato.
Esses pontos oferecem os bolinhos fritos bem crocantes e saborosos, além da oportunidade de interagir com as baianas e aprender mais sobre sua cultura e motivação para produzir a iguaria.
Se você quer vivenciar a verdadeira história do acarajé, seu sabor e a espiritualidade da Bahia, experimentar essa iguaria na nossa terra é a melhor forma de começar. Após conhecer sua trajetória, aproveite para visitar ótimos lugares para degustá-lo em Salvador e mergulhar ainda mais na cultura local.