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História do acarajé: tradição e sabor da Bahia

Postado dia 21/06/25 | 4min. de leitura

História do acarajé: tradição e sabor da Bahia

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Entre as comidas típicas da Bahia, o acarajé é, com certeza, a iguaria de maior destaque. O bolinho frito recheado com vatapá, camarão seco e vinagrete é de dar água na boca, além de ser um símbolo cultural, histórico e espiritual. A história do acarajé remonta à África Ocidental, atravessando o Atlântico e se tornando uma representação da resistência e identidade afro-brasileira.

A seguir, você entenderá como esse prato surgiu, sua conexão com o candomblé, seus ingredientes tradicionais e onde provar essa iguaria em Salvador.

Acarajés fritando azeite de dendê
Acarajés fritando em azeite de dendê

Origem do acarajé 

A origem do acarajé vem do continente africano, mais especificamente dos povos iorubás da Nigéria e do Benim. A iguaria era chamada akara e preparada em rituais religiosos dedicados a divindades como Xangô e Iansã. O termo “akara” significa “bola de fogo”, uma analogia para o bolinho quente, crocante e frito no azeite.

Com a chegada forçada de africanos no Brasil durante o tráfico transatlântico, o prato foi trazido e adaptado. 

Ganhou o nome de acarajé quando chegou aqui, que é uma mistura de “akara” com “je”, que significa “comer”, e passou a ser um alimento produzido e vendido nas ruas por mulheres negras libertas ou escravizadas de ganho, que buscavam formas de sustento.

Na história do acarajé, o candomblé está presente

Baiana no seu tabuleiro
Baiana e seu tabuleiro de acarajé em Salvador, na década de 1950 - Reprodução / Arquivo Instituto Moreira Salles

Além de ser delicioso, o acarajé também é um alimento sagrado nas religiões afro-brasileiras

No candomblé, ele é uma oferenda aos orixás, principalmente a Iansã, deusa dos ventos e das tempestades, assim como Exu, mensageiro entre os mundos. As oferendas são feitas dentro dos terreiros, com receitas específicas não comercializadas.

Dessa forma, há dois tipos de acarajé:

  • Ritualístico, preparado sem pimenta ou camarão, e servido nas cerimônias religiosas.

  • Comercial, que é vendido nas ruas e em estabelecimentos, com recheios e adaptações que variam de acordo com a região.

Mesmo que diferentes, ambos simbolizam a conexão entre a comida, a espiritualidade e a identidade negra. Comer acarajé, portanto, também é uma forma de valorizar essa herança cultural.

Ingredientes tradicionais do acarajé 

A base da receita do acarajé baiano é o feijão fradinho descascado e moído, temperado com cebola e sal. A massa é batida até ficar leve e aerada, depois moldada em bolinhos e frita no azeite de dendê, que é um ingrediente essencial da culinária afro-baiana.

Após frito, o bolinho é aberto no meio e pode ser recheado com alguns acompanhamentos. São eles: 

  • vatapá, um creme espesso feito com pão, leite de coco, amendoim, castanha de caju, cebola e azeite de dendê;

  • caruru, a base de quiabo cozido com azeite de dendê e temperos; 

  • camarão seco;

  • vinagrete;

  • pimenta. 

É comum as baianas perguntarem se os clientes querem ele “quente ou frio?”, para saber se você quer com ou sem pimenta no recheio.

As baianas do acarajé 

Baiana fritando acarajé
Baiana fritando acarajé na década de 1950 - Reprodução / Arquivo Instituto Moreira Salles

A venda do acarajé nas ruas de Salvador começou com as chamadas “negras de tabuleiro”, mulheres em busca de independência financeira após a alforria. Com o decorrer do tempo, elas se tornaram figuras características da cidade, conhecidas por suas roupas brancas, turbantes e colares coloridos.

Hoje em dia, são chamadas de baianas do acarajé, e representam a resistência do povo negro, além de serem guardiãs da cultura afro-baiana. 

Em 2004, a profissão foi reconhecida como patrimônio cultural do Brasil pelo IPHAN, o que reforçou ainda mais sua importância histórica e cultural, tanto para Salvador quanto para o país inteiro.

As baianas não só produzem e vendem o acarajé, como também participam de blocos afro, festejos religiosos e movimentos culturais que mantêm vivas as tradições, originalmente africanas.

História do acarajé baiano

Tabuleiro da baiana arte Carybé
Baiana e seu tabuleiro - Reprodução / Arte do gênio Carybé

O reconhecimento da iguaria como patrimônio nacional ocorreu devido à história desse acarajé baiano e sua conexão com as vivências do povo negro no Brasil, que foram cheias de lutas, adaptações e manifestações culturais que precisaram se camuflar para continuarem sendo perpetuadas.

Nos anos 1990 e 2000, movimentos e acadêmicos começaram a valorizar a culinária de matriz africana, dando destaque ao seu papel na formação da identidade cultural do Brasil. Dessa forma, o acarajé ganhou mais visibilidade como símbolo de Salvador e da Bahia.

Hoje ele é servido e vendido em festas populares, estabelecimentos focados no turismo, e até em roteiros religiosos. Também já se espalhou pelo país, sendo comercializado em outros estados. 

A importância do acarajé para o turismo

Além de um enorme valor histórico e religioso, o acarajé também desempenha um papel muito importante na economia, especialmente na Bahia, assim como no turismo do estado. O prato é um dos principais atrativos para quem visita Salvador, trazendo muitos turistas que desejam experimentá-lo em seu local de origem. 

Ele também faz parte de roteiros gastronômicos, eventos culturais e festividades religiosas como a Lavagem do Bonfim e a Festa de Iemanjá. Além disso, é muito comum presenciar a iguaria sendo vendida em diversas praias da cidade, o que é uma ótima oportunidade de aproveitar o sol, o mar e se deliciar com o prato.

Onde comer acarajé em Salvador 

Cira vendendo acarajé
Cira do Acarajé em Itapuã "in memorian" - Reprodução / Instagram @acarajedacira

Provar o acarajé mais autêntico de todos na capital baiana é uma das atividades principais para quem visita a Bahia. A cidade oferece diversas opções, e até mesmo versões modernas do prato. 

Esses pontos oferecem os bolinhos fritos bem crocantes e saborosos, além da oportunidade de interagir com as baianas e aprender mais sobre sua cultura e motivação para produzir a iguaria.

Se você quer vivenciar a verdadeira história do acarajé, seu sabor e a espiritualidade da Bahia, experimentar essa iguaria na nossa terra é a melhor forma de começar. Após conhecer sua trajetória, aproveite para visitar ótimos lugares para degustá-lo em Salvador e mergulhar ainda mais na cultura local.

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