
Postado dia 29/03/25 | 11min. de leitura
Nazaré das Farinhas: confira esse destino histórico baiano
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A antiga Nazaré das Farinhas faz parte do Recôncavo Baiano e está localizada mais ao sul, já na fronteira com a Costa do Dendê.
Cortada pelo belo Rio Jaguaripe, a cidade, que é um berço de cultura e baianidade, possui história singular e de grande relevância para o entendimento da formação da Bahia e do Brasil que conhecemos hoje.
Um lugar onde se pratica a mariscagem e a pesca artesanal, cuja navegação de cabotagem ainda hoje se faz presente, e que produz lindas festas tradicionais e religiosas. A cidade também é sede da maravilhosa Feira dos Caxixis, que desde o séc. XIX é o centro comercial de uma cerâmica conhecida nos quatro cantos do mundo, produzida na vizinha Maragogipinho.
Por tudo isso, Nazaré não é apenas um ponto de passagem para quem vai visitar as ilhas e praias da Costa do Dendê, ela tem luz própria e merece muito ser reconhecida pelo turismo!

Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
A origem de Nazaré “das Farinhas”
As duas margens do Rio Jaguaripe eram habitadas por tupinambás, que lá viviam da caça, pesca e coleta. Também produziam cerâmica e desenvolviam pequena agricultura, plantando especialmente a mandioca, de onde extraíam farinha e diversos outros alimentos.
Não se sabe ao certo a data da chegada dos primeiros europeus na região, o que provavelmente aconteceu a partir da expansão da colonização portuguesa na Ilha de Itaparica e em Jaguaripe.
Certo mesmo é que os portugueses quando lá chegaram, guerrearam com os tupinambás, matando, escravizando, expulsando e roubando-lhes as terras para fins de roças de mandioca e cana-de-açúcar.
Até a segunda metade do séc. XIX, os tupinambás ainda existiam em Nazaré e viviam no povoado da Aldeia, atual cidade vizinha de Aratuípe. A essa altura, estavam misturados com caboclos e cafuzos, descendentes de mulheres tupinambás com europeus e africanos.

Ao final do séc. XVI, Fernão Cabral de Athaíde recebeu a Sesmaria da Conceição localizada na margem direita do Jaguaripe e foi o primeiro colono a se estabelecer em Nazaré.
Em suas terras ele construiu o Engenho e a Capela de São Bento, além de uma ponte de madeira que servia à povoação. Em 1742, a Capela de São Bento foi substituída pela atual Igreja de Nossa Senhora da Conceição, cuja data consta acima da sua portada.
O segundo núcleo de povoação de Nazaré das Farinhas estava à esquerda do rio e foram terras doadas como sesmaria a Antônio de Oliveira, que nada fez ou produziu, sendo sucedido por Pero Carneiro.
Em 1591, Fernão Cabral de Athaíde e sua esposa foram condenados pelo Santo Ofício por denúncias de praticarem magia com os indígenas. Situação que trouxe decadência à povoação da margem direita do rio e impulsionou o desenvolvimento da margem esquerda do Jaguaripe.
Nessa fase, Antônio de Brito tomou posse das terras de Pero Carneiro e construiu em 1649, a Igreja de São Roque, também conhecida por Capela de Camamu ou de N. Sra. de Nazaré, por estar situada no Largo de Camamu.
Em torno dessa capela, o povoado se desenvolveu ligado à economia gerada pelo porto e pela pesca. Em 1753, foi elevado à sede de freguesia e em 1831, desmembrou-se de Nossa Senhora de Jaguaripe, tornando-se vila. Nessa época, a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré já existia, tendo sido construída na segunda metade do séc. XVIII.
Em meados do séc. XIX, foi construída uma ponte de alvenaria em substituição à antiga de madeira, ligando as duas vilas históricas cortadas pelo rio Jaguaripe. Em 1849, as duas margens de uma vila de Nazaré unificada foram elevadas à categoria de cidade, com o nome de “Constitucional Cidade de Nazaré”.

Desde os primórdios, Nazaré se desenvolveu por meio de plantações de mandioca e casas de farinha, do fumo, da pesca e exploração portuária, além da atuação de pequenos engenhos de açúcar, que produziam açúcar mascavo, melaço e rapadura.
A chegada de escravizados africanos se deu a partir do séc. XVII, para atuar nas lavouras de mandioca, de cana-de-açúcar e nos pequenos engenhos. Uma legislação portuguesa estabeleceu como exigência que a região de Nazaré e do baixo-sul baiano só produzissem lavouras de subsistência.
A cidade então passa a desenvolver culturas de gêneros de primeira necessidade para o abastecimento da capital e da região açucareira do Recôncavo. Sua produção de mandioca foi tão relevante que passou a ser conhecida como "Nazaré das Farinhas".
O porto especializou-se como porto farinheiro, assim como Santo Amaro era um porto açucareiro e as cidades de Cachoeira e Maragogipe eram portos fumageiros durante o séc. XIX. Desse modo, os dois grandes produtores baianos de farinha de mandioca foram, portanto, as cidades de Nazaré, com sua famosa farinha "copioba", e Cairu.
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo de. IPAC-BA - Inventário de proteção do acervo cultural: monumentos e sítios do Recôncavo, II parte. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio da Bahia, 1982.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra, 2010.
TAVARES, Luis Henrique Dias. Nazaré das Farinhas, cidade do rio Moreno. Salvador: Secretaria de Cultura e Turismo, 2003.
O que fazer em Nazaré das Farinhas: confira 13 lugares imperdíveis
Tratando-se de uma pequena cidade histórica, basta simples caminhada pelas ruas para que monumentos antigos se revelem, alguns deles citados no tópico anterior.
Confira agora os principais atrativos turísticos de Nazaré das Farinhas!

1. Igreja de Nossa Senhora da Conceição
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição está situada no alto de uma colina, à margem direita do Rio Jaguaripe e no bairro do mesmo nome.
Seu entorno foi o marco zero do povoamento de Nazaré, pontapé iniciado por Fernão Cabral de Athaíde, que no final do séc. XVI, construiu no mesmo local seu engenho e a primitiva Capela de São Bento.
A atual igreja, que foi construída em 1742, teve um "Te-Deum" em homenagem à D. Pedro II em 1859, ano em que o mesmo visitou a cidade.
Visitá-la também proporciona uma linda vista de grande parte de Nazaré cortada pelo Rio Jaguaripe.
2. Igreja de São Roque

A Igreja de São Roque, que também é conhecida como Capela de Nossa Senhora de Nazaré (seu nome antigo) ou Capela de Camamu, está situada no Largo do Camamu, atual Praça Almirante Muniz.
O monumento localiza-se à esquerda do Rio Jaguaripe e foi edificado nas terras da fazenda de Antônio de Brito em 1649, com a ajuda do povo e sob a licença do Bispo D. Pedro Silva.
Reza a tradição que sua construção foi motivada pela aparição da Virgem de Nazaré, fator que contribuiu para grandes romarias até ela.
Já no séc. XVII, seu entorno se desenvolveu como bairro portuário ligado à pesca, e como já foi citado na breve origem da cidade, se tornou freguesia e vila, gerando o crescimento necessário para que Nazaré se tornasse município.

3. Igreja Matriz Nossa Senhora de Nazaré
A obra da Igreja Matriz Nossa Senhora de Nazaré foi iniciada no início do séc. XVIII e concluída apenas oitenta anos depois.
Sua finalização se deu por um pedido do vigário José Torquato Cruz a D. Maria I em 1781, que por sua vez solicitou ao Governador D. Afonso Miguel de Portugal e Castro uma vistoria da capela-mor para fins de construção da nave e compra de alfaias e paramentos.
Com desfecho favorável, a obra da Igreja foi concluída em 1790, data gravada em um dos seus sinos. Trata-se do mais imponente monumento da cidade e apresenta rara beleza.

4. Cinema Rio Branco
O Cinema Rio Branco foi fundado em 1927 e é o mais antigo da América Latina em funcionamento.
Fez parte do apogeu da cidade, quando Nazaré era o centro comercial da região e oferecia grandes festas e shows de artistas renomados como Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves e Ângela Maria.
A restauração do cinema ocorreu após investimento do ex-jogador de futebol “Vampeta”, sendo atualmente administrado pela Fundação Marcos Vampeta.
Trata-se de um espaço multicultural que proporciona arte de palco e exibições de cinema.
5. Estação Ferroviária de Nazaré das Farinhas
A Estação Ferroviária de Nazaré possui arquitetura neogótica com elementos neoclássicos, e sua história está ligada à grande ferrovia que ligou o sudoeste da Bahia ao progresso.

Apesar de trazer grandes possibilidades de desenvolvimento econômico para a região, entrou em decadência pelas escolhas estaduais e federais, que privilegiaram as estradas de rodagem.
Sua construção se deu em 1869, pela Firma Luís Lopes & Cia, com o trecho inicial ligando Nazaré à cidade de Onha. Posteriormente, em 1877, a ferrovia foi estendida até Santo Antônio de Jesus, e em 1888, seus trilhos foram prolongados até Amargosa.
Em dificuldades econômicas pela falta de incentivo governamental às estradas de ferro no Brasil, a Estrada de Ferro Nazaré foi finalizada pelo Governo Federal, sendo completamente desativada em 1971, sendo seu último trecho em funcionamento o que ligava Nazaré à Santo Antônio de Jesus.
Lembrando que a Estação Ferroviária de Nazaré é o local onde repousa uma locomotiva “Maria Fumaça”, adquirida em 1873 pela antiga ferrovia.
6. Sobrado na Travessa Conceição - Antigo Fórum Edgard Matta

O Sobrado na Travessa Conceição ou Antigo Fórum Edgard Matta é um sobrado neoclássico datado da primeira metade do séc. XIX. Em 1859, seu proprietário e senhor de engenhos, Joaquim Porfírio de Souza, recebeu o Imperador D. Pedro II e o hospedou nele.
Em 1910, foi vendido ao casal Apulcro Leony da Silva e Braudina Rodrigues Brito da Silva, quando passou a se chamar Vila Leonora. De acordo com placa decorativa presente no sobrado, o mesmo também hospedou Ruy Barbosa em 1919.
Em 1950, foi adquirido pelo Estado da Bahia para servir de sede administrativa da Estrada de Ferro Nazaré. Após a desativação da ferrovia, o edifício foi abandonado. Somente em 1977, foi restaurado para sediar o Fórum Edgard Matta.
Nascido em Nazaré, Edgard Matta foi um grande criminalista, mas também foi deputado estadual e intendente de Nazaré (termo antigo que designava o cargo de prefeito), além de professor emérito de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia.

7. Paço Municipal de Nazaré
O Paço Municipal de Nazaré foi construído no final do Império, seguindo o padrão das antigas casas de Câmara e Cadeia do período colonial, embora sua arquitetura seja neoclássica.
Trata-se de um edifício imponente, cujas janelas do primeiro andar vislumbram o Rio Jaguaripe e parte da cidade. O Paço Municipal está localizado no Centro Histórico de Nazaré.
8. Ponte da Conceição

A Ponte da Conceição foi inaugurada em meados do séc. XIX, em substituição à antiga ponte de madeira que ligava as duas vilas históricas cortadas pelo Jaguaripe.
Em 1859, quando em visita à Nazaré, o Imperador D. Pedro II se referiu à ponte com os seguintes dizeres: "a melhor obra daqui".
Possui 101,20 metros de comprimento, está instalada sobre seis arcos em estilo neocolonial e até hoje é de grande importância urbanística para a cidade.
9. Santa Casa de Misericórdia

A Santa Casa de Misericórdia de Nazaré é ainda hoje o hospital da cidade e possui o nome de Hospital Gonçalves Martins. Sua origem é de 1831, quando de maneira incipiente, iniciou suas atividades mesmo em instalações provisórias.
Em 1859, D. Pedro II a visitou e somente em 1888, o edifício começou a ser construído como o conhecemos hoje.
Estamos falando de um dos edifícios mais bonitos de Nazaré e que possui inspiração neoclássica. Quem está transitando pela BA-001 a caminho das praias da Costa do Dendê pode admirar este belo monumento pela janela do carro mesmo, já que a rodovia passa bem em frente a ele.
10. Sobrado dos Arcos

Localizado no coração de Nazaré, o Sobrado dos Arcos também é conhecido como Casa dos Arcos e ocupa uma quadra inteira do Centro Histórico. O sobrado é neoclássico e apesar de não se saber exatamente a data da sua construção, a tipologia sugere que seja de meados do séc. XIX.
Provavelmente foi construído a mando de um português de nome Guimarães, todavia, a conclusão da obra se deve a Joaquim Porfírio de Souza, rico senhor de escravos e de engenhos.
Atualmente é sede de diversas lojas de artesanato, onde se encontram obras maravilhosas da cerâmica produzida em Maragogipinho e que são comercializadas na Feira dos Caxixis.
11. Sobrado na Praça Artur Sampaio

O Sobrado na Praça Artur Sampaio é, certamente, o edifício mais impressionante e fotogênico de Nazaré.
Erigido sobre fundações instaladas nas águas do Rio Jaguaripe, possui dois acessos.
O primeiro pela Praça Artur Sampaio e o segundo por meio de uma escadaria mergulhada no rio, onde desembarcavam saveiros e canoas no passado.
A vista que a Ponte da Conceição oferece do sobrado é esplêndida, e a determinada hora do entardecer, seu reflexo brilha sobre as águas do Rio Jaguaripe, proporcionando uma das visões mais deslumbrantes de Nazaré.
12. Feira dos Caxixis em Nazaré das Farinhas

A partir do séc. XVIII, Nazaré encontrou desenvolvimento através do comércio, se tornando importante feira da região, onde se encontravam diversos produtos como milho, feijão, fumo, rapadura, melaço, aguardente, porcos, peixes, mariscos, e louças de cerâmica.
Tais cerâmicas eram produzidas nas olarias de Maragogipinho e transportadas em saveiros e canoas para serem vendidas na grande feira de Nazaré. Tamanha foi a importância e sucesso das cerâmicas, que surgiu a necessidade de uma feira só para comercialização das mesmas.
Não se sabe ao certo a origem da Feira dos Caxixis, já que ainda não foram encontrados registros históricos sobre o surgimento da mesma. Porém, estima-se que possua mais de duzentos anos.
Os caxixis são miniaturas de louças que medem entre 2 e 8 centímetros e que fazem parte das miuçalhas. No passado, tais objetos eram produzidos por aprendizes da arte ceramista, antes que os mesmos se tornassem oficiais de torno. Daí a origem do nome da Feira dos Caxixis, a mais antiga em cerâmica do Brasil e que acontece tradicionalmente na Semana Santa.
Vale lembrar que a feira costuma receber grandes artistas para shows excelentes, regados a muita música e alegria.
13. Via Sacra Caminho da Fé

A famosa Via Sacra Caminho da Fé é a mais imponente do país. Localizada no alto do Morro do Silêncio, onde está uma grande estátua de Jesus Cristo de 15 metros de altura, ela narra a história da Paixão de Cristo por meio de 14 estações repletas de esculturas de arte sacra, produzidas pelo artista Felix Sampaio.
São obras em tamanho natural que recriam a trajetória de sofrimento de Jesus, desde a sua condenação até a ressurreição.
Ao visitá-la, o turista ainda ganha o visual do mirante, de onde se pode admirar uma belíssima vista da cidade. O local possui estacionamento amplo e até um heliporto.
Onde se hospedar em Nazaré das Farinhas
Nazaré dispõe de poucas opções de hospedagem, que costumam receber, em sua maioria, viajantes a caminho dos destinos do litoral sul baiano.
Destaque para o Hotel Victória Réghia, com arquitetura estilosa, ótimas instalações e quartos climatizados. Já a Pousada Torres é um charme e super intimista, sendo a preferida pelos turistas que vão à Feira dos Caxixis.
Qual a melhor época para viajar para Nazaré das Farinhas
Por se tratar de um destino histórico e cultural, não há restrições de estações do ano para conhecer Nazaré das Farinhas, sendo possível visitá-la tanto em períodos de sol, como de chuva. Mas se sua preferência for pelo sol, deve considerar as estações praianas, que são a primavera e o verão, entre os meses de outubro e março.
Como chegar em Nazaré das farinhas
A distância de Nazaré das Farinhas para Salvador via Terminal Marítimo de São Joaquim é de apenas 76 quilômetros, sendo preciso atravessar a Baía de Todos os Santos em um ferry boat e seguir pela rodovia BA-001.
Para quem deseja ir de ônibus, após a travessia da Baía e a chegada no Terminal Marítimo Bom Despacho na Ilha de Itaparica, basta pegar um ônibus para qualquer cidade do baixo sul que passe por Nazaré.
A viagem ocorre em ônibus da empresa Águia Branca e dura aproximadamente 1 hora. Outra opção é contratar um transfer, para uma viagem muito mais confortável!
Agora que você já está bem inteirado sobre a cidade de Nazaré das Farinhas e suas riquezas, conheça as 10 cidades históricas mais importantes do Recôncavo Baiano e amplie seus conhecimentos sobre essa região fantástica da Bahia!