
Postado dia 20/04/25 | 7min. de leitura
Santiago do Iguape: conheça suas riquezas culturais e naturais
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Se as cidades do Recôncavo Baiano em geral são lugares históricos e pouco explorados pelo grande turismo, imagine então Santiago do Iguape. Esse é um dos povoados mais isolados de Cachoeira, localizado às margens do Rio Paraguaçu, em uma região conhecida como Lagamar ou Baía do Iguape.
Se tratando de Recôncavo, quanto mais distante, mais cultura preservada, lembrando que Santiago do Iguape é um povoado de origem quilombola, repleto de costumes antigos e tradições que se mantêm vivas no cotidiano da sua pequena população. Quer conhecer mais sobre este lugar encantador? Continue conosco e fique atento às próximas linhas!

Um pouco sobre a história de Santiago do Iguape
O povoado de Santiago do Iguape é um dos mais antigos do Recôncavo Baiano e também de todo o estado da Bahia, sendo fundado pelos jesuítas no ano de 1561 com o nome de Aldeia do Iguape. Como de costume, o propósito dos religiosos era o de catequizar os indígenas, impondo-lhes a religiosidade portuguesa e facilitando o domínio das terras por parte do colonizador.
Muito provavelmente no mesmo ano que fundaram a aldeia, os jesuítas erigiram uma primitiva capela contando com mão de obra tupinambá, etnia que vivia nas bordas do Rio Paraguaçu e da Baía de Todos os Santos. Essa capela foi substituída pela impactante Igreja Matriz de São Tiago do Iguape no início do séc. XIX, sendo a mesma construída com suor e sangue africano e escravizado.

Em 1575, durante o episcopado de D. Antônio Barreiros, foi criada a freguesia, que recebeu sanção canônica em 1608 e teve como sede a igreja primitiva.
Em 1759, a freguesia do Iguape possuía 337 famílias e 3.671 habitantes, que giravam em torno dos engenhos Central e Brandão, unidades fabris de produção de açúcar. Eram lavradores de mandioca, roceiros, pequenos agricultores, pescadores, artesãos, e principalmente, lavradores de cana-de-açúcar, que produziam a matéria-prima utilizada nos engenhos.
Mas a formação definitiva do povoado se deu a partir do período pós-abolição, quando os libertos dos engenhos da região permaneceram nas suas respectivas terras, buscando nelas uma alternativa de sobrevivência.
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo de. IPAC-BA - Inventário de proteção do acervo cultural: monumentos e sítios do Recôncavo, II parte. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio da Bahia, 1982.
CRUZ, A. P. B. da S. “VIVER DO QUE SE SABE FAZER”: memória do trabalho e cotidiano em Santiago do Iguape (1960-1990). Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual de Feira de Santana, 2014.
O que fazer em Santiago do Iguape: 5 atividades imperdíveis
Após conhecer um pouco da história da região, você deve ter percebido que Santiago do Iguape é muito mais do que um simples vilarejo às margens do Rio Paraguaçu. Com tanta riqueza histórica, cultural e natural, não faltam boas razões para explorar o local com calma. Por isso, a seguir, você confere algumas atividades imperdíveis para aproveitar ao máximo esse destino singular do Recôncavo Baiano.
1. Andar pelo povoado

A primeira coisa que se deve fazer ao chegar em Santiago do Iguape é admirar a beleza da natureza que o cerca. Caminhar pelas ruas e dialogar com seus habitantes pode se mostrar uma das mais genuínas experiências por lá, coletando memórias que remontam ao tempo da escravidão.
Todos os caminhos levam até a Igreja Matriz de Santiago do Iguape, que está posicionada lindamente de frente para um braço do Lagamar do Iguape, que por sua vez é constituído pelo Rio Paraguaçu.
Na orla, pescadores tecem redes, mestres constroem embarcações e marisqueiras catam aratu, siri e caranguejo em bacias de alumínio, bem na porta das suas casas.

Em Santiago do Iguape, Bahia, tudo é poesia e arte, e para enxergar verdadeiramente sua essência, é preciso apenas aprumar a visão com os olhos do coração!
2. Visitar a Igreja Matriz de São Tiago do Iguape
Como disse no tópico anterior, chegar a pé na Igreja Matriz de São Tiago do Iguape é uma dádiva!
Nos fins de tarde, sua imagem refletida nas águas do Paraguaçu é uma das mais lindas cenas do Recôncavo Baiano. Porém, bom mesmo é combinar com um pescador local para curtir este momento em uma canoa, dentro do rio e de frente para ela. Não se esqueça dessa dica!

A Igreja Matriz de São Tiago do Iguape foi construída a partir dos primeiros anos do séc. XIX, e a obra centenária nunca foi verdadeiramente concluída.
Se tratando da arquitetura, sua fachada exibe um lindo trabalho de cantaria em arenito, portada, portas e janelas em estilo D. Maria I, além de fina decoração em guirlanda.
No interior, destacam-se painéis de azulejos portugueses, uma linda capela-mor onde se vê imagens de Santiago, Sr. Morto, Deus Menino, Nossa Senhora da Conceição e São Felipe.
3. Realizar passeios de canoa

Não existem produtos turísticos embalados em Santiago do Iguape, portanto, o que faço aqui é sugerir atividades que realizei quando lá estive.
É possível navegar em canoa pela região, mas para isso é necessário fazer amizade com algum pescador e contratá-lo para desbravar as águas do Paraguaçu.
Quanto ao horário, os melhores momentos são ao nascer do sol e ao entardecer, quando a luz dourada invade as águas negras do rio e formam espelhos d’água incríveis, com o céu e vegetação completamente refletidos.
O silêncio possibilita ouvir a música da natureza, o canto dos pássaros, o som das águas com o saltar dos peixes, ou do remo ao realizar seu ofício.
4. Fazer o passeio Patrulha das Águas

A Associação Rede Elas Negras Conexões é uma instituição que preza pela força coletiva das mulheres da região e atua em diversas frentes, uma delas é a Patrulha das Águas. Uma atividade que surgiu para monitorar o meio ambiente local e oportunizar a sociedade com um contato direto com o cotidiano de mulheres pescadoras e marisqueiras, que realizam uma jornada de trabalho de 6 horas por dia.
O passeio permite uma vivência in loco no rio e nos mangues, e tem recebido instituições como escolas, universidades, pesquisadores e turistas que valorizam o turismo de experiência.
Importante: o Receptivo Elas Negras Conexões só realiza o passeio com agendamento prévio.

5. Visitar o Espaço Colaborativo da Associação Rede Elas Negras Conexões
Além de ser uma ótima oportunidade de conhecer Pan Batista, liderança na associação e da comunidade de Santiago do Iguape, o espaço permite ao turista um universo de possibilidades.
Uma delas é conhecer o Terras de Pretos, que realiza uma leitura do processo de organização política e social da comunidade de Santiago do Iguape, que se deu através da decadência do Engenho Central.
Sua vertente principal é o receptivo Filhos de Engenhos, que envolve diversos movimentos culturais como capoeira, samba de roda, festas tradicionais religiosas, em seus roteiros de turismo de base comunitária.
O espaço também expõe e comercializa peças genuínas desenvolvidas pelo Projeto Sururuelas, que vem capacitando mulheres na produção de biojoias produzidas a partir das cascas de sururu. Um trabalho especial e de alto padrão estético, que vem gerando renda para a comunidade de maneira sustentável, valorizando os recursos naturais dos territórios quilombolas da região.
Onde se hospedar em Santiago do Iguape

O Espaço Colaborativo da Associação Rede Elas Negras Conexões também oportuniza o turista com uma hospedagem alternativa, proporcionando ao turista um contato maior com a cultura local.
Para uma hospedagem tradicional, a Pousada Tio Pellet proporciona boa estadia, em um espaço super agradável, quartos limpos e arejados, além de um ótimo café da manhã em uma área ampla e bem decorada.
Onde comer em Santiago do Iguape
Apesar de pequenina, a comunidade de Santiago do Iguape dispõe de boas opções gastronômicas. Entre eles podemos mencionar o Restaurante de Dan, o Kiosk Zé Dias liderado por Fia, e o Santhiago Gourmet, todos de fácil acesso e instalados no povoado.
Uma ótima pedida é experimentar a tão famosa moqueca de sururu, marisco em abundância por lá e que tem ficado muito famoso através do Projeto Sururuelas.
Como chegar a Santiago do Iguape

Santiago do Iguape está a 110 quilômetros de Salvador, e para quem vai de carro, deve seguir pelas rodovias BR-324, BA-420 e BA-880, sendo esta última conhecida como Rota da Liberdade, que passa por outras comunidades quilombolas relevantes, como Opalma, Kaonge, da Ponte e Calembar.
Para quem vai de ônibus, a empresa Cidade Sol disponibiliza diversos horários diários a partir da rodoviária de Salvador com destino a Cachoeira. Chegando lá, será preciso pegar um táxi ou carro de aplicativo e percorrer mais 38 quilômetros até Santiago.
Para quem busca uma viagem mais confortável e com excelente custo-benefício, uma ótima pedida é viajar de transfer, que busca o turista no hotel onde estiver hospedado, ou mesmo no aeroporto.
Atrações próximas de Santiago

Santiago do Iguape está localizada no epicentro histórico do açúcar no Recôncavo Baiano. Está próximo de cidades como Cachoeira e seu lindo centro histórico repleto de casarões coloniais, igrejas seculares e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Também nos arredores você encontra Santo Amaro da Purificação, terra da família de Caetano Veloso e Maria Bethânia e São Félix, vizinha de Cachoeira.
Outros belos povoados bem próximos de Santiago do Iguape também devem ser visitados, tanto pela riqueza histórica, como pelas belezas naturais e culturais que os compõem, a exemplo da comunidade quilombola Kaonge, que inclusive realiza um ótimo trabalho com o turismo de base comunitária.
Se você curtiu saber em detalhes sobre o maravilhoso povoado de Santiago do Iguape, confira também São Francisco do Paraguaçu, uma comunidade quilombola repleta de monumentos históricos incríveis, como a Igreja e Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, construído pelos franciscanos no séc. XVII.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
