
Postado dia 01/06/25 | 6min. de leitura
Maragogipinho: tradição em barro e muito mais
0 comentário
0 curtida
0 visualização
Maragogipinho é um destino encantador do Recôncavo Baiano, onde cultura, história e arte se misturam em cada detalhe do cotidiano. O povoado pequenino, pertencente à cidade de Aratuípe, é considerado como o maior centro ceramista da América Latina pela UNESCO.
Uma tradição muito antiga que remonta, pelo menos, aos primórdios da colonização, para não dizer que suas raízes indígenas e africanas são ainda mais antigas.

Mas Maragogipinho ainda apresenta outros importantes atrativos, tanto históricos como naturais e gastronômicos, já que o povoado está à margem de um braço do belo rio Jaguaripe. Cercado por belos manguezais, ainda preserva a cultura de pesca artesanal e mariscagem, uma riqueza que pode ser apreciada em deliciosos pratos servidos em restaurantes locais.
Por último, mas não menos importante, ainda está a bela festa tradicional do Festival da Cerâmica. Continue conosco e saiba mais sobre Maragogipinho!
Como surgiu o povoado de Maragogipinho
A origem de Maragogipinho se dá posteriormente ao povoamento de Aratuípe, sendo toda sua região habitada originalmente pelos aimorés. O primeiro português a chegar foi Paulo Argolo de Menezes, que iniciou a exploração do território ainda na segunda metade do séc. XVI.

Por meio de uma carta de sesmaria doada pela Coroa Portuguesa, ele fundou o aldeamento Santo Antônio (Aratuípe) com o objetivo de catequizar os indígenas e dominá-los pela religiosidade.
Para proteger o aldeamento dos constantes ataques aimorés, Paulo Argolo trouxe tupinambás da Casa da Torre de Garcia d’Ávila, indígenas que eram inimigos naturais dos aimorés.
Por volta de 1587, os descendentes de Paulo Argolo construíram a primitiva Capela de Santo Antônio dos Índios, em Aratuípe, que ganhou os contornos atuais em 1733, data de reconstrução da mesma.
Pouco se sabe a respeito da origem do povoado de Maragogipinho e especula-se que tenha se formado da união de antigas aldeias indígenas com escravizados que se aquilombavam por lá. Culturas que, de maneira geral, dominavam a arte da cerâmica, sendo daí a origem da tradição ceramista do povoado.
Como chegar em Maragogipinho, no Recôncavo Baiano
A melhor maneira de chegar à Maragogipinho é, primeiramente, atravessando a Baía de Todos os Santos pelo ferry boat a partir do Terminal Marítimo de São Joaquim.

Já na Ilha de Itaparica, siga aproximadamente 90 quilômetros pela rodovia BA-001, passando por Nazaré das Farinhas. Ao chegar no entroncamento de Aratuípe, basta virar à esquerda de acordo com a sinalização para chegar ao povoado.
O mesmo ocorre para quem vai de ônibus, sendo necessário atravessar a baía e na rodoviária do Terminal Marítimo de Bom Despacho, pegar um ônibus com destino a qualquer cidade no sul da Bahia e pedir para parar na entrada de Maragogipinho.
Vale lembrar que neste caso, ainda há um trecho de 5 quilômetros a percorrer, podendo ser realizado a pé, de táxi ou um automóvel por aplicativo.
Todavia, se o objetivo é realizar o trajeto de maneira mais segura e confortável, é de se considerar a contratação de um transfer por uma agência confiável, que realiza o percurso em automóveis novos e climatizados.
O que fazer em Maragogipinho: 5 experiências imperdíveis

Maragogipinho é famosa internacionalmente pela indústria ceramista, mas o destino oferece muitos outros atrativos que ampliam ainda mais o horizonte de quem a visita. Confira!
1. Capela de Nossa Senhora da Conceição
Não se sabe ao certo a data da sua construção, somente que pelas características arquitetônicas, parece ser do séc. XIX.
Outro fator que assim a certifica é a lápide mais antiga encontrada no interior da capela, que data do ano de 1876.
De estrutura modesta, ela está em um patamar elevado do povoado e posicionada de frente para o rio Jaguaripe, oferecendo uma vista panorâmica da vila e na natureza que a cerca.
Outra característica importante é o fato de estar cercada pelas olarias, no centro da produção ceramista, como um monumento de grande relevância para a constituição do antigo povoado que ali se formou.
Em frente à capela existe um antigo coreto e uma praça cercada de lojas, que vendem cerâmicas produzidas nas olarias do povoado.
2. Olarias

Primeiro é importante saber que olaria é um tipo de oficina que se dedica à produção de cerâmicas. Em geral, as olarias de Maragogipinho estão próximas umas das outras e possuem paredes de madeira e coberturas em palha de piaçava, espécie de palmeira nativa da região.
São aproximadamente 150 olarias em Maragogipinho, onde atuam mestres artesãos que mantêm vivos a memória e a tradição dos seus antepassados por meio de uma produção artesanal que pouco se modificou ao longo dos séculos.
Por isso, visitar essas oficinas e assistir os mestres oleiros com “as mãos na massa” é uma oportunidade única, bem como conversar com eles e ouvir tantas histórias que foram transmitidas ao longo de gerações.
3. Festival da Cerâmica

Entre 14 e 27 de novembro de 2024, o Festival da Cerâmica teve sua segunda edição e o evento foi um sucesso, garantia de que se perpetuará por muitos e muitos anos.
O evento é uma realização do Governo do Estado da Bahia, através do Programa de Artesanato da Bahia, e de uma série de secretarias de fomento, da Associação Fábrica Cultural e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Por trás do objetivo comercial, o festival se tornou um marco cultural na Bahia, levando uma grande demanda de turistas para a região.
Nesse período, o povoado, que já é belo, se torna ainda mais atraente, com suas maravilhosas peças em louças de barro como potes, boi-bilhas, talhas, panelas, vasos, esculturas, moringas, pratos e muitas outras expostas em todos os cantos e lojas.
Os traços indígenas são marcantes, com desenhos e pinturas em tauá, espécie de pigmento natural de argila vermelha, e tabatinga, tinta natural de tonalidade branca. O que se vê são traços geométricos diversos e florais belíssimos, que decoram maravilhosamente toda a cerâmica produzida.
Destaque também para as esculturas sacras, que possuem um estilo genuíno que leva o nome de Maragogipinho e do Recôncavo da Bahia para o mundo inteiro.
4. Passeio embarcado pelo rio Jaguaripe

Apesar de não ser um produto comercializado formalmente por agências de turismo, vale muito a pena fazer amizade com os pescadores e lhes propor um passeio em suas rústicas embarcações, que podem ser canoas ou até mesmo os famosos saveiros tradicionais da região.
O braço do rio Jaguaripe que passa em frente às olarias de Maragogipinho leva a paisagens indescritíveis, onde diversas espécies de aves dão o ar da sua graça em voos rasantes bem próximos dos navegantes.
Os manguezais da região também são lindos e exibem diversas espécies de crustáceos famosos, especialmente o aratu-vermelho, que vivem sobre os galhos das árvores do mangue.
E a depender da dimensão do passeio, o turista pode explorar bem a região e até mesmo chegar à linda foz do rio Jaguaripe, que se encontra com a Baía de Todos os Santos revelando cenários inacreditáveis.
Infraestrutura turística de Maragogipinho
O fato de ser ainda hoje uma comunidade pesqueira e marisqueira a coloca em uma condição privilegiada no quesito gastronomia, especialmente quando se trata de tempero.

Um dos estabelecimentos mais famosos da região, o Restaurante Visão do Manguezal está posicionado literalmente sobre o rio e é muito famoso pelas saborosas moquecas de frutos do mar.
Outro estabelecimento importante é a Pousada e Restaurante Ponto Chic, que além de oferecer ótimas acomodações com suítes modernas e climatizadas, também proporciona uma gastronomia de primeiríssima, além da excelente localização com vista para o rio Jaguaripe e bem no centro das olarias.
Há também a opção de se hospedar na Pousada Mocambo, em Aratuípe, que oferece bom custo benefício e está localizada no entroncamento da BA-001, em frente a entrada para Maragogipinho.
Atrativos próximos
Vale muito a pena dar uma chegadinha em Aratuípe, que além de ser a cidade sede, foi um dos primeiros povoamentos da Bahia. Visitar a Igreja de Santo Antônio dos Índios é imperdível, já que a mesma é o marco zero da cidade e sua primitiva capela data de 1587.
Muito perto de Maragogipinho, Nazaré das Farinhas é um verdadeiro deleite para os apaixonados por história.
A cidade também teve seu primeiro povoamento colonial no final do séc. XVI e possui muitos monumentos de grande relevância, a exemplo das igrejas de Nossa Senhora da Conceição e de São Roque, cujos entornos datam do séc. XVI e XVII respectivamente.

Nazaré é uma cidade maior e possui infraestrutura mais robusta, com variadas opções de pousadas. É também uma opção de hospedagem alternativa para quem deseja visitar Maragogipinho em época de festas tradicionais, como o Festival da Cerâmica, que costuma lotar as pousadas de toda a região.
Agora que tem em mãos um ótimo guia para conhecer as belezas de Maragogipinho, conheça também a cidade de Maragogipe, uma outra pérola histórica do Recôncavo Baiano e epicentro da navegação dos antigos saveiros.
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo de. IPAC-BA - Inventário de proteção do acervo cultural: monumentos e sítios do Recôncavo, II parte. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio da Bahia, 1982.
SIMÕES, Iaçanã Costa. A cerâmica tradicional de Maragogipinho. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) - Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com