
Postado dia 24/04/25 | 8min. de leitura
Bairro da Graça em Salvador: conheça seus atrativos
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Salvador é um destino incrível, pois oferece uma grande diversidade de atividades que atendem a todos os perfis de turistas. Uma delas é conhecer o bairro da Graça, que juntamente com a Barra, formam o miolo onde se constituiu o primeiro povoado euroindígena, muito antes dos portugueses iniciarem o povoamento através da divisão territorial em Capitanias Hereditárias.
Caminhar pela Graça é um espetáculo que leva a museus incríveis e duas das mais antigas igrejas do país, que guardam tesouros dos primeiros anos do séc. XVI.
Continue conosco e saiba mais!

Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
A origem do bairro da Graça
A história do bairro da Graça em Salvador se funde com a origem da própria cidade, já que foi entre a Barra e a Graça que Diogo Álvares “o Caramuru”, já casado com a tupinambá Paraguaçu, consolidou seu povoado e prosperou como liderança indígena.
Falar de Caramuru é complexo, pois sua aparição nessas paragens se deu em um período pré-colonial, havendo uma grande dificuldade se tratando de documentos históricos que possam elucidar a maioria da sua história.

Mas existem consensos, como o de que ele surgiu entre os bancos de corais na Praia do Rio Vermelho, mais ou menos em 1511, tendo sobrevivido aos tupinambás por alguma razão.
Para muitos historiadores clássicos, e aqui não entrarei em detalhe sobre o que publicou cada um deles, Caramuru teria disparado um tiro de arcabuz com intuito de amedrontar os tupinambás, e após se enamorar com Paraguaçu, a filha do principal Taparica, tornou-se liderança entre os silvícolas.
Fato é que seu povoado estava espalhado entre a Barra e a Graça, e imagino que a atual Ladeira da Barra fosse apenas uma trilha que ligava ambos.
Muitos relatos de navegadores europeus que passaram pelas águas da Baía de Todos os Santos atestam sobre a presença desse primitivo povoado mestiço e seu líder branco, que segundo o próprio, ali estava para acudir os europeus de ataques tupinambás.
Uma das mais fascinantes histórias desse período é a lenda cristã do sonho de Paraguaçu, que também envolve fatos documentados por quem viveu esta tragédia. Narro-a de maneira resumida aqui:
Em 1535, Simon de Alcazaba partiu em duas embarcações de Sanlúcar de Barrameda, para conhecer as terras americanas que havia recebido da Coroa Espanhola. Assim como Francisco Pizarro e Hernán Cortez haviam sido incumbidos de explorar as regiões do Peru e México respectivamente, Alcazaba haveria de empossar como governador o extremo sul do continente sulamericano.

O fato é que sua expedição foi frustrada por uma série de intempéries, sendo ele assassinado por alguns dos seus capitães. Posteriormente, seus algozes foram degolados por homens da sua confiança, em uma espécie de motim do motim.
No retorno das embarcações, San Pedro e Madre de Dios à Espanha, se perderam uma da outra, sendo a San Pedro acudida por Caramuru na Baía de Todos os Santos e a Madre de Dios naufragado nos baixios do Arquipélago de Cairu.
A praia do naufrágio foi local de uma batalha onde morreram 90 espanhóis e de 17 a 20 homens da tripulação escaparam com vida em uma chalupa, sendo também recebidos posteriormente por Caramuru em seu povoado.
Reza a lenda que Paraguaçu sonhara com uma mulher de branco pedindo socorro e que lhe construísse uma casa. Ela teria persuadido Caramurú a viajar até o local do naufrágio castelhano para buscar uma mulher que viera naquela nau e que estava em poder dos tupinambás.

Lá chegando, deparou-se com 4 espanhóis sobreviventes, 90 cadáveres na praia e com uma imagem de Nª Sª da Vitória.
Ao retornar ao seu povoado, apresentou a imagem da santa a Paraguaçu, que a reconheceu afirmando ser a mulher dos seus sonhos.
Conclui a lenda que em função desse milagre, Catarina Paraguaçu mandou erigir a Igreja Nossa Senhora da Graça, a casa que a Virgem havia lhe pedido em sonho.
A igreja está situada no bairro da Graça em Salvador e é uma das mais antigas do país (TORRES, 2024, p. 141).
Os bairros da Barra e da Graça ainda se tornaram a região da Vila do Pereira, onde viveu o donatário Francisco Pereira Coutinho a partir de 1536, com o início da Capitania Hereditária da Baía de Todos os Santos.
Caramuru se tornou uma espécie de mediador entre a Coroa portuguesa e os tupinambás, sendo de fundamental importância na construção de Salvador, iniciada em 1549 com a chegada do primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Sousa.
O que fazer no bairro da Graça em Salvador: 6 ótimas dicas
Após uma história tão empolgante, imagine adentrar na Igreja e Abadia de N. Sra. da Graça e se deparar com elementos preservados que remontam ao seu tempo? Em seguida, visitar a Igreja de N. Sra. da Vitória, datada do mesmo período e que também guarda tesouros que possuem quase 500 anos.

Além desses dois monumentos muito especiais, o bairro da Graça em Salvador é sede do lindo Corredor da Vitória, avenida para lá de centenária que mais se parece um túnel de grandes árvores, emoldurado por casarões coloniais e grandes edifícios modernos. É lá que estão duas igrejas e três importantes museus que também merecem sua visita.
1. Igreja e Abadia N. Sra. da Graça
A igreja era o centro da antiga Vila Velha fundada por Caramuru. Com o desenvolvimento da cidade, a pequena colina foi cortada e a escala da igreja ameaçada pelos altos edifícios em sua vizinhança. Construída a mando de Catarina Paraguaçu em 1535, é o produto da lenda cristã citada anteriormente.
Tal lenda foi materializada na forma de uma pintura realizada por Manuel Lopes Rodrigues e datada do final do séc. XIX. Tal obra foi intitulada como “O Sonho de Paraguassu” e se encontra no interior da igreja, que ainda preserva mobiliário do séc. XVII e uma primitiva imagem de Nossa Senhora da Graça.
A igreja está situada na Av. Princesa Leopoldina, nº 133 e funciona de segunda a sexta-feira, das 07:00 às 11:00 e das 14:00 às 17:00; sábado, das 07:00 às 17:20; domingo, das 08:00 às 19:00.
2. Igreja de N. Sra. da Vitória
Não se sabe ao certo quando a Igreja de N. Sra. da Vitória foi construída, mas estima-se que seja tão ou mais antiga que a Igreja da Graça. Sua frente, que era primitivamente voltada para o mar, foi invertida por obra posterior à sua fundação.

A igreja possui três lápides sepulcrais expostas na sacristia e cujas inscrições dizem o seguinte:
"Aqui jaz Affonso Rodrigues natural de Óbidos, o primeiro homem que casou nesta igreja, no ano de 1534, com Magdalena Álvares, filha de Diogo Álvares Correa, primeiro povoador desta capitania. Faleceu o dito Affonso Rodrigues, no ano de 1561. Para os juízes do Santíssimo Sacramento da Victória".
"Sepultura do capitão Francisco de Barros, fundador desta capela e igreja e de seus herdeiros. Faleceu a 19 de novembro de 1621 anos".
"Aqui jaz João Marante, natural de Coimbra, que casou com Isabel Rodrigues, neta de Diogo Álvares Correa, primeiro povoador desta capitania; esta sepultura pertence aos seus herdeiros e aos tesoureiros e escrivães do Santíssimo Sacramento, 1809".
A igreja está situada no Largo da Vitória, s/n e funciona segunda, terça, quarta e sexta-feira, das 08:00 às 12:00 e das 14:00 às 18:00; quinta-feira, das 08:00 às 12:00; sábado, das 08:00 às 12:00 e das 15:00 às 18:00.
3. Museu Carlos Costa Pinto - Corredor da Vitória

O acervo desse museu localizado na Graça é um dos mais importantes do país em seu segmento, e possui mais de três mil peças que remontam a três séculos de arte, memória cultural e literária.
Em geral, são elementos que pertenciam à aristocracia açucareira baiana, como coleções de porcelanas, cristais, ourivesaria, prataria, desenhos, gravuras, pinturas, esculturas e mobiliário, datadas entre o século XVII e meados do século XX.
O Museu Costa Pinto fica no Corredor da Vitória, nº 2490 e funciona segunda, quarta, quinta e sexta-feira, das 14:30 às 18:00. A entrada custa R$ 20,00 (Inteira) R$ 10,00 (meia).
4. Museu Geológico da Bahia - Corredor da Vitória

O museu possui foco nas geociências e possui amplo acervo sobre mineração, geologia, paleontologia, meteorítica, petróleo, e costuma realizar ações de educação e museologia. Em seu interior encontram-se 2.500 amostras de minerais, rochas e fósseis e 80 objetos que demonstram a técnica rudimentar de mineração e ourivesaria.
Possui também riquíssima documentação histórico-científica, destacando uma bela coleção de quartzos. Entre as raridades de seu acervo, destaca-se uma réplica do meteorito Bendegó, o maior meteorito do Brasil, que foi encontrado no município baiano de Monte Santo em 1784 e classificado como o 11º mais importante do mundo.
O museu possui entrada franca, está localizado no Corredor da Vitória, nº 2195 e funciona de terça à sexta-feira, das 13:00 às 18:00; sábado e domingo, das 13:00 às 17:00. Também oferece um modelo de visita orientada sob agendamento, que acontece entre terça e sexta-feira, das 09:00 às 16:00.
5. Museu de Arte da Bahia - Corredor da Vitória

O Museu de Arte da Bahia é público e gerido pelo Governo do Estado da Bahia. Fundado em 1918, preserva um fantástico acervo oriundo de doações e coleções particulares, a exemplo do que colecionaram Jonathas Abbott e Góis Calmon. Tal acervo é de grande relevância histórica e etnográfica sobre o estado da Bahia.
Em geral, são aproximadamente 5 mil obras que variam entre pinturas locais e estrangeiras que remontam desde o séc. XVI, além de artes decorativas nacionais, orientais e europeias, documentos fotográficos, correspondências e mapas antigos.
O museu funciona no Palácio da Vitória, um lindo edifício histórico de arquitetura neocolonial e ainda proporciona uma grande biblioteca com mais de 12 mil livros. O público também costuma ser agraciado com exposições permanentes, temporárias e exibição de filmes do circuito alternativo de cinema.
A entrada no MAB é franca, estando o museu localizado no Corredor da Vitória, nº 2340 e funcionando de terça a sexta-feira, das 13:00 às 19:00; sábado, domingo e feriado, das 14:00 às 19:00.
6. Descer caminhando pela Ladeira da Barra até a Praia do Porto da Barra

Não perca a oportunidade de descer caminhando pela linda Ladeira da Barra até o Porto da Barra. No percurso surgirão diversos mirantes que oferecem vistas espetaculares da Baía de Todos os Santos.
Ainda dá tempo de visitar a antiga Igreja de Santo Antônio da Barra antes de chegar em uma das praias mais cobiçadas de Salvador, com seu mar calmo, verde e cristalino. E já no Porto da Barra, é impossível não perceber a presença de dois fortes belíssimos, construídos no séc. XVII: O Forte São Diogo e o Forte Santa Maria, ambos abertos ao turismo.
Também vale muito a pena imaginar como era a Ladeira da Barra nos tempos de Caramuru e durante a caminhada revisitar todas as histórias que contei aqui neste artigo!
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v.1. Monumentos do Município de Salvador, 1975-2002. 7v.
TORRES, Márcio Vasconcelos de Oliveira. TV WEB Remando em Preservação: história e meio ambiente em Boipeba e Morro de São Paulo. In: ANAIS DO II CONGRESSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNEB - Extensão Universitária nas bordas multiterritoriais, 2024, Salvador. Disponível em: https://saberaberto.uneb.br/items/7cd708c6-4630-4459-afaf-3404c58fa720/full
Agora que você já conhece sobre as mais importantes informações acerca do bairro da Graça, saiba tudo o que a Barra tem a oferecer, um bairro com ótimas hospedagens, muitas opções gastronômicas, vida noturna, praias lindas e claro, o inesquecível Farol da Barra, que proporciona um dos ângulos mais espetaculares do pôr do sol na mágica capital da Bahia.
