
Postado dia 07/09/25 | 4min. de leitura
Vatapá: conheça a receita baiana e sua história
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O vatapá é um dos pratos mais gostosos da gastronomia baiana, podendo ser consumido solitariamente ou em combinação com outros pratos também genuínos da Bahia.
Por trás dessa iguaria existe muita história, tradição e religiosidade, já que estamos falando de um produto de origem afro-descendente que se funde com o processo histórico colonial brasileiro.
Neste artigo, vamos conhecer sua origem, entender como é utilizado em festas religiosas, aprender a receita baiana para que o seja feito em casa mesmo e descobrir outras regiões que também produzem o vatapá. Continue conosco!

História do vatapá
Com o tráfico de africanos escravizados ao Brasil, a Bahia recebeu uma maciça leva de iorubás para trabalharem nas lavouras de cana, nos engenhos de açúcar e outras atividades. Eles faziam parte de um dos maiores grupos étnicos africanos e viviam na atual região do Togo, Benin e Nigéria.
Eles trouxeram consigo sua identidade e com ela, elementos preciosos até hoje presentes na cultura baiana, a exemplo da língua, da forte influência nas religiões de matriz africana e na gastronomia.
Dentre tantos pratos maravilhosos deixados pelos iorubás como herança, como o acarajé, a moqueca e o caruru, o vatapá possui sua própria característica e importância nesse delicioso universo culinário.
Algo interessante a mencionar é que expressão original iorubá é ehba-tapá e com o passar do tempo passou a ser chamado vatapá.
Além disso, na Bahia, é um prato produzido à base de azeite de dendê, sendo servido como acompanhamento do acarajé, do caruru, do abará, da moqueca e de outros pratos.

O vatapá em festas religiosas
Conhecido como comida de “santo”, ou “oferenda para santo”, o vatapá é parte de celebrações de Candomblé e Umbanda, sendo um dos pratos servidos como oferenda e alimento sagrado em rituais de agradecimento aos orixás. Mas também é servido em outras festas tradicionais, confira as mais famosas:
Festa de São Cosme e São Damião
Uma das celebrações mais famosas é o “caruru dos 7 meninos” em homenagem aos orixás ibejis, que no sincretismo religioso são representados por São Cosme e São Damião.
Nessa festa, convida-se 7 crianças de 7 anos para primeiro comerem com as mãos em pratos de cerâmica, para depois servir os demais convidados.
O caruru completo é acompanhado por vatapá e outros pratos baianos como: abará, acarajé, farofa de dendê, xinxim de galinha, arroz branco, feijão fradinho, banana da terra frita e pipoca.
Festa de Yemanjá
A famosa Festa de Yemanjá, que ocorre sempre no dia 02 de fevereiro, também possui como tradição as oferendas à “Rainha das Águas”, que podem ser em forma de presentes e também por meio de pratos como acarajé e abará.
Após o momento religioso, a festa profana adentra dia e noite, com todo o axé da Bahia e a presença da sua fabulosa gastronomia, onde se inclui o vatapá.
Lavagem do Bonfim
A célebre lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim é um momento marcante do sincretismo religioso em Salvador. Nela, o profano e o sagrado ocupam o mesmo espaço, as ruas do Bonfim e a sua sagrada colina.
Apesar de não fazer parte diretamente dos ritos, o vatapá é presença marcante nos tabuleiros das baianas, que costumam vendê-lo juntamente com o acarajé e o abará.
Festa da Boa Morte
A Boa Morte é uma das mais tradicionais festas religiosas da Bahia e acontece em Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Além de todo o ritual que envolve vasta programação entre 13 e 17 de agosto, o evento é muito gastronômico, sendo o vatapá, claro, um dos seus ilustres convidados.
Esta é uma ótima oportunidade de degustar essa e outras maravilhas da culinária baiana ao som de samba de roda e em meio a rodas de capoeira.

Receita do vatapá da Bahia
Foi na Bahia que o prato ganhou fama internacional, sendo esta sua expressão mais popular. Confira os principais ingredientes e modo de preparo:
Ingredientes de vatapá
5 pães cacetinho (francês) dormidos;
500 ml de leite de coco;
200 gramas de camarão seco;
100 gramas de castanha de caju;
100 gramas de amendoim torrado descascado;
Meio maço de coentro;
3 cebolas raladas;
1 xícara de chá de azeite de dendê;
Não se usa sal, já que o camarão seco já dá a proporção ideal para o prato;
1 cm quadrado gengibre ralado.
Modo de preparo do vatapá
Limpe os camarões secos, retirando o rabo e a cabeça. Bata junto com o amendoim, a castanha e os demais ingredientes no liquidificador até formar uma massa homogênea. Coloque os pães cacetinhos de molho no leite de coco, batendo-os no liquidificador separadamente.
Ponha uma panela no fogo, onde devem ser inseridos: os pães no leite de coco batidos e a massa homogênea adquirida com os outros ingredientes. Mexa com frequência para não embolar, acrescentando o azeite de dendê.
É muito importante continuar mexendo até o vatapá soltar do fundo da panela, para que o enfim se apresente de forma consistente e cremosa.
O “pulo do gato”
É preciso que os pães estejam brancos, ou no caso de mais escuros, retirar a casca dos mesmos para não escurecer o vatapá. Para produzir uma quantidade maior de vatapá, é só multiplicar a proporção dos ingredientes que indicamos aqui neste artigo.
O vatapá em outras regiões do Brasil
O vatapá servido nos estados da região Norte do país possui uma variação significativa: eles não utilizam amendoim e pão dormido para engrossar o prato e dar a consistência cremosa da Bahia.
Fora isso, todos os outros ingredientes são praticamente os mesmos, havendo também outra diferença no ato de servir. Enquanto na Bahia o vatapá é basicamente um acompanhamento de outros pratos, na região Norte é servido com arroz branco como prato principal.
Se você chegou até aqui e adorou saber todos os detalhes sobre o delicioso vatapá, confira também a história do acarajé, uma iguaria também de origem iorubá e ainda mais famosa que o vatapá. Trata-se de uma marca registrada da gastronomia baiana, sendo um prato exclusivo que se tornou cartão postal do Brasil.
