
Postado dia 08/07/25 | 7min. de leitura
Nilo Peçanha: conheça o potencial deste município
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Nilo Peçanha, na Bahia, é mais um município da Costa do Dendê, situado geograficamente na parte continental por detrás do Arquipélago de Cairu.
A rodovia BA-001 que corta o litoral baiano de norte a sul, encontra nessa região lindas paisagens permeadas pelo bioma da mata atlântica e um dos seus mais importantes ecossistemas, o manguezal.
Nilo Peçanha é riquíssima em cultura, apresentando um dos mais genuínos movimentos folclóricos da Bahia e uma festa de padroeiro que movimenta toda a região.

A sua zona rural possui diversos povoados ribeirinhos e quilombolas, que são verdadeiros tesouros imateriais do município. Lugares que guardam a história viva da região e que possibilitam experiências inesquecíveis para os que buscam o turismo comunitário.
Continue conosco e descubra Nilo Peçanha, a cidade é tudo o que foi descrito acima e muito mais!
Nilo Peçanha, na Bahia: conheça sua história
A história de Nilo Peçanha está atrelada à Ilha de Boipeba, sendo importante ficar atento quanto às nomenclaturas para que não se confunda uma com a outra.
No séc. XVI, as terras da atual cidade de Nilo Peçanha faziam parte da Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus. Os jesuítas receberam uma sesmaria de Mem de Sá em 1563, conhecida por “12 léguas” ou “Sesmaria de Camamu”. Ela iniciava ao sul, duas léguas antes do rio de Contas, atual Itacaré, e terminava ao norte, na metade da ilha de Boipeba.

Nessa sesmaria, os jesuítas fundaram a Aldeia e Residência de Boipeba e a Aldeia de Nossa Senhora da Assunção do Camamu (atual cidade de Camamu). Dois anos depois, a aldeia jesuíta da ilha de Boipeba se tornou a Vila de Santo Antônio de Boipeba, fundada em 1565, no local hoje conhecido como Velha Boipeba. Com a construção da Igreja do Divino Espírito Santo, ela foi elevada à freguesia em 1618, com o nome de Divino Espírito Santo de Boipeba.
Sabe-se que essa região foi assolada pelos aimorés por mais de dois séculos, gerando grandes dificuldades aos colonos. Fugindo para não serem mortos pelos indígenas, muitos deles se refugiaram nas ilhas de Tinharé, Cairu e Boipeba, fortalecendo suas incipientes vilas.
Cessados os ataques aimorés no séc. XIX, os colonos que haviam se refugiado na Ilha de Boipeba voltaram ao continente, enfraquecendo a sua vila. Em 1811, a ruína era tamanha que a vila hoje conhecida por Velha Boipeba, perdeu a condição de vila para o povoado de Jequié, no continente, lugarejo que passou a se chamar Vila Nova de Boipeba, atual Nilo Peçanha.
Pouco se sabe a respeito do antigo povoado de Jequié (povoado mais antigo de Nilo Peçanha). A historiografia aponta mais informações a partir de quando se tornou a Vila de Nova Boipeba. Em 1847, perdeu o foro de vila para Taperoá, sendo restaurada em 1873, quando teve seu território desmembrado da mesma.
Em 1930, a Vila de Nova Boipeba passou a se chamar Nilo Peçanha, uma homenagem ao Dr. Nilo Peçanha, Presidente da República no período entre 1909 e 1910.
Como chegar a Nilo Peçanha
Nilo Peçanha faz parte do Tabuleiro de Valença, região do baixo-sul baiano. Para chegar até lá, a melhor forma é, saindo de Salvador, atravessar a Baía de Todos os Santos via ferry boat. Já na Ilha de Itaparica, é preciso seguir pela rodovia BA-001 ao longo de 135 quilômetros.
A mesma travessia via ferry boat deve ser realizada por quem vai de ônibus. Lembrando que o Terminal Marítimo de Bom Despacho (Ilha de Itaparica) possui uma rodoviária, de onde saem linhas de ônibus intermunicipais para muitas cidades do litoral sul baiano. A empresa Cidade Sol disponibiliza linhas de hora em hora entre 06:20 e 17:20, para viagens que duram aproximadamente 3 horas.
Para quem busca um transporte mais seguro e muito mais confortável, é possível contratar um transfer para ir até lá. O mesmo pode sair de Bom Despacho ou ir direto pelas rodovias BR-324 e BR-101, contornando a Baía de Todos os Santos e percorrendo um trecho mais longo de aproximadamente 241 quilômetros.
O que fazer em Nilo Peçanha: 7 ótimas sugestões
Nilo Peçanha oferece opções de lazer para todos os perfis de turistas, com atrações históricas, culturais, naturais e esportivas, confira:
1. Conhecer o Zambiapunga

A tradição cultural Zambiapunga é uma manifestação popular genuína que acontece em alguns lugares do baixo-sul baiano, como Taperoá, Cairu e Nilo Peçanha. Especula-se que sua origem seja de Angola e Congo, sendo Zambiapunga uma corruptela da expressão zamiapongu, deus supremo dos candomblés desses países.
O Zambiapunga é um cortejo de homens mascarados e vestidos com roupas coloridas em retalhos de tecidos e papel de seda. Eles saem pelas ruas da cidade durante a madrugada véspera do dia de finados (01/11), tocando um som diferente a base de instrumentos de percussão, como tambores, enxadas, grandes búzios e cuícas.
Vale muito a pena visitar a sede Zambiapunga de Nilo Peçanha, uma oportunidade de ver de pertinho as roupas e máscaras utilizadas no cortejo, as enxadas usadas nos toques musicais, e conversar com as pessoas que fazem parte dessa tradição tão linda.
2. Visitar os monumentos históricos de Nilo Peçanha
Igreja Matriz do Senhor do Bonfim

Construída no final do séc. XIX, possui em seu interior uma pia batismal do séc. XVII, trazida da Velha Boipeba na época em que a vila foi transferida de lá para a Nova Boipeba (Nilo Peçanha).
Sobrado da família Meireles
O casarão é conhecido popularmente como “Casa Branca”, por ter hospedado muitos políticos.
Não se sabe sua data exata de construção, cujas características são do final do século XIX. Segundo a tradição, foi construído pela esposa de Pedro Barbosa. Posteriormente, a residência pertenceu a Cândido Meireles de Queiroz, político e intendente municipal, nascido em 1879.
Antiga usina Mutumpiranga
Ela se encontra na beira da BA-001, mais especificamente no entroncamento de Nilo Peçanha com a estrada que vai para Cairu.
Datada do séc. XIX, possui uma chaminé de tijolos que remonta a um período ainda mais antigo, tendo sido parte de um engenho de açúcar.
3. Conhecer os povoados de Nilo Peçanha
Povoado de Barra dos Carvalhos: de todos os povoados do município, é o que dispõe de melhor infraestrutura. Possui um ótimo atracadouro, de onde saem barcos que levam para a ilha de Boipeba. Barra dos Carvalhos dispõe de pousada e ótimos restaurantes, onde se pode comer pratos tradicionais como a famosa “mariscada”.

Não deixe de ver a produção artesanal das miniaturas de barcos de madeira típicos da região, elas são comercializadas e você poderá levar uma obra de arte para sua casa.
Povoado de São Francisco: outro povoado ribeirinho que oferece lindas paisagens às margens do rio dos Patos. Oferece atracadouro, bares e restaurantes, mas não possui pousada.
Povoado de Barroquinhas: o povoado é quilombola e pequenino, possui um atracadouro rústico e uma das orlas mais bonitas dentre todos os povoados de Nilo Peçanha, com vista para o canal que separa Boipeba do continente.
Povoado de Boitaraca: comunidade quilombola que vive da extração da piaçava, da pesca e mariscagem. A Igreja Nossa Senhora da Conceição é ponto de referência local e proporciona uma linda vista do rio dos Patos.
Povoado de Itiúca: comunidade ribeirinha especializada em pesca, no cultivo de ostras e no extrativismo da piaçava.
4. Fazer turismo de base comunitária no povoado de Jatimane

O povoado foi fundado por escravizados fugidos, ou seja, era um antigo quilombo. Atualmente, seus descendentes vivem da extração da piaçava, da produção de farinha e especialmente, do turismo de base comunitária.
Ir até Jatimane pode ser a experiência mais enriquecedora para quem viaja pelo baixo-sul baiano, já que a comunidade está preparada para “se mostrar” e “se fazer entender” para os turistas.
Jatimane proporciona três roteiros, além de pousada e restaurantes que fazem parte de uma rede solidária.
Roteiro “Tradição do Quilombo”: oportuniza os turistas com a história viva da comunidade, vivenciando a extração da piaçava e sua utilização para produção de bio-joias e cestaria, tudo disponível para compra no ateliê das artesãs.
Roteiro Ecológico: vivência no “Jardim Sensorial” de Jatimane, com os turistas vendados experimentando o contato íntimo com as plantas por meio de outros sentidos. Há também uma trilha ecológica e banho de cachoeira.
Roteiro “Águas do Quilombo”: apresenta a pesca tradicional de Jatimane e leva os turistas a passeios de canoa extraordinários pelos manguezais.
5. Fazer rafting pelo rio das Almas

O rio das Almas passa por Nilo Peçanha e nesse trecho do seu curso, proporciona corredeiras com níveis de dificuldade que variam entre II e IV.
O rafting por lá é muito valorizado, sendo os saltos do Tacho, do Boda, do caldo e as Corredeiras do Himalaia os mais explorados.
O percurso inteiro é de 6 quilômetros e pode ser feito em até 2 horas, finalizando na cidade de Nilo Peçanha. Prepare-se, pois as paisagens são belíssimas!
6. Ir à cachoeira do Oco
O mesmo rio das Almas percorrido no rafting também oferece uma queda d’água de aproximadamente 10 metros. A cachoeira do Oco é praticamente selvagem e não oferece infraestrutura turística.
7. Participar da festa de São Benedito
É uma linda festa tradicional e religiosa em homenagem a São Benedito, o padroeiro de Nilo Peçanha. O evento ocorre sempre no mês de maio e une shows de artistas consagrados com manifestações culturais e religiosas.
Onde se hospedar em Nilo Peçanha
Nilo Peçanha é uma cidade pequena e possui apenas 15 mil habitantes. Sendo assim, sua infraestrutura de hotelaria é bem simples e oferece algumas poucas pousadas, como a Pousada do Japa e a Pousada Ponto de Encontro. Ambas oferecem serviços básicos, mas com quartos limpos, bom café da manhã e muita simpatia.
Onde comer em Nilo Peçanha
Para quem deseja uma experiência gastronômica mais autêntica, a sugestão é desfrutar dos restaurantes que ficam nos já citados povoados da zona rural. São comunidades quilombolas e de pescadores que têm um modo de preparo dos alimentos muito especial e genuíno.
Na cidade, o Restaurante Recanto da Toinha oferece comida caseira e segue em uma toada semelhante aos restaurantes dos povoados. Há também o Restaurante Comida Caseira da Jú, que oferece outras opções além da tradicional comida baiana.
Visto que agora você já possui muitas e importantes informações a respeito de Nilo Peçanha, na Bahia, descubra mais sobre o turismo de experiência, um modelo alternativo de se fazer turismo com respeito às comunidades e muito aprendizado.
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v. 5. Monumentos e Sítios do Litoral, 1975-2002. 7v
CAMPOS, Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1981.
COELHO FILHO, Luiz Walter. A Capitania de São Jorge e a Década do Açúcar (1541 – 1550). Salvador: Vila Velha, 2000.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
