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Galeão, Bahia: simplicidade e cultura em Cairu

Postado dia 05/06/25 | 7min. de leitura

Galeão, Bahia: simplicidade e cultura em Cairu

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O povoado Galeão faz parte do município-arquipélago de Cairu e é uma verdadeira joia escondida na Costa do Dendê

Localizado na contra costa da Ilha de Tinharé, a comunidade formada por remanescentes quilombolas. Essa comunidade é pouco conhecida pelo grande turismo que frequenta a região, especialmente pela forte concorrência de paraísos tropicais do arquipélago, como o Morro de São Paulo, Gamboa, Garapuá e a Ilha de Boipeba.

Imagem aérea Igreja de São Francisco Xavier povoado Galeão
Imagem aérea da linda Igreja de São Francisco Xavier no Galeão

Por outro lado, o isolamento lhe permitiu atravessar o tempo preservando suas características culturais, permanecendo com uma identidade histórica comunitária pouco encontrada no litoral brasileiro atualmente. Assim, o Galeão é o destino perfeito para quem busca turismo de experiência.

Continue conosco e confira informações preciosas sobre lugar incrível!

O povoado do Galeão

O Galeão é um pequeno e pacato povoado da Ilha de Tinharé, composto por aproximadamente mil habitantes.

Rua povoado do Galeão Ilha de Tinharé
Rua no povoado do Galeão - Ilha de Tinharé

No alto de um promontório repleto de Mata Atlântica, exibe uma relíquia arquitetônica que preserva sua história e tradições: a majestosa e secular Igreja de São Francisco Xavier.

Os moradores do Galeão são pessoas simples, de grande coração e sorrisos estampados nos rostos. Basta instigá-los um pouco para que comecem a contar histórias e lendas do lugar, uma riqueza!

Como o turismo ainda é incipiente, a comunidade vive basicamente do extrativismo da piaçava e do dendê, além da pesca e mariscagem artesanais realizadas em pequenas embarcações e canoas tupinambás esculpidas em troncos de árvores nativas.

Galeão: povoado antigo e rico em história

A origem do Galeão está atrelada diretamente ao processo de conquista e povoamento português ocorrido no Arquipélago de Cairu a partir de 1536 ou 1537. Naquele momento, o donatário Jorge de Figueiredo Correa enviou Francisco Romero para tomar posse das terras que passaram a lhe pertencer e que compunham sua capitania hereditária.

Romero aportou em frente às falésias de um morro que deu o nome de São Paulo, e lá fundou um povoado que funcionou por algum tempo como sede da Capitania Hereditária.

Alguns anos depois, em busca de um sítio mais atrativo, navegou para o sul e se deparou com um trecho do litoral repleto de ilhas e onde um grande rio encontra sua foz, dando-lhe o nome de Ilhéus.

Ilha de Tinharé mapa Albernaz 1640
Ilha de Tinharé no mapa de Albernaz - 1640

Fez então a transferência da sede da capitania para lá, quando a capitania passou a se chamar Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus. Tais terras foram então divididas em sesmarias, sendo 12 léguas doadas a Mem de Sá antes dele se tornar o 3º Governador Geral do Brasil. 

A sesmaria das 12 léguas se estendia da foz do Rio de Contas até aproximadamente a Ilha de Tinharé ou a Baía de Todos os Santos. Foi doada por Mem de Sá aos jesuítas, que por sua vez foram de grande relevância para o povoamento de todo o litoral do baixo-sul baiano.

Das missões jesuítas nasceram cidades como Taperoá, Camamu, Ituberá, Maraú, Itacaré, além de povoados como a Velha Boipeba, localizada na Ilha de Boipeba. Essa região litorânea era habitada por tupinambás, que tinham por inimigos os bravos aimorés, etnia não falante da língua tupi.

Tais guerras afugentaram os colonos das capitanias de Porto Seguro e de Ilhéus, que se refugiaram nas ilhas do arquipélago de Cairu. 

Por essa razão, esses incipientes povoados se tornaram as vilas de Santo Antônio de Boipeba e de Nossa Senhora do Rosário de Cairu, ainda no séc. XVI. Tais vilas eram núcleos de resistência aos ataques aimorés e foram de grande relevância para o fortalecimento da colonização na região.

Documento antigo Morro de São Paulo Galeão
Documento antigo sobre o Morro de São Paulo - Ilha de Tinharé

Um dos colonos fugidos dos aimorés em Ilhéus foi Domingos Fonseca Saraiva, que passou a viver na Ilha de Cairu com sua família. Décadas depois, seus herdeiros fundaram fazendas de criação na Ilha de Tinharé e, em 1626, erigiram a Igreja de São Francisco Xavier no Galeão.

Segundo a pesquisa do arqueólogo Fábio Guaraldo Almeida, em sua tese de doutoramento, há indícios de uma capela anterior que pode ter sido construída ainda no séc. XVI. Isso se pode evidenciar pela observação de alicerces em pedra e cal localizados aos pés do promontório da Igreja de São Francisco Xavier.

No início do séc. XVII, o Arquipélago de Cairu recebeu africanos escravizados para trabalhar nas lavouras, especialmente a de mandioca, de onde extraíam farinha que alimentava a indústria açucareira no Recôncavo Baiano

Das fugas e aquilombamentos dos escravizados, surge o povoado do Galeão, cujas características culturais rompem o séc. XXI de maneira preservada e especial.

Bibliografia

AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v. 5. Monumentos e Sítios do Litoral, 1975-2002. 7v

CAMPOS, Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1981.

COELHO FILHO, Luiz Walter. A Capitania de São Jorge e a Década do Açúcar (1541 – 1550). Salvador: Vila Velha, 2000.

GUARALDO ALMEIDA, Fábio. Passado e Presente na Paisagem: Temporalidade da paisagem quilombola na ilha de Tinharé, Cairu (BA). 2021. Tese (Doutorado) - Museu de Arqueologia e Etnologia da cidade de São Paulo, 2021.

JABOATÃO, Fr. Antônio de Santa Maria. Novo Orbe Seráfico Brasílico ou Chronica dos Frades Menores da Província do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1858.

LEITE, S. J. Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1945.

RISÉRIO, Antônio. Tinharé: História e Cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador: BYI Projetos Culturais Ltda, 2003.

SOUZA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra, 2010.

O que fazer no Galeão: 4 vivências autênticas

Igreja de São Francisco Xavier Galeão
Fundo da Igreja de São Francisco Xavier ao final da ladeira - Galeão

Turismo de experiência é sobre vivenciar a cultura local de forma genuína, interagindo com as pessoas e conhecendo seu modo de viver e ver o mundo. 

Soma-se isso à história local, que pode ser estudada inicialmente por meio dos monumentos históricos que lá se encontram e também pela oralidade, ouvindo do povo as histórias sobre seu passado. 

Outro meio é através da gastronomia, já que os pratos servidos são, muitas vezes, preparados com ingredientes e modos de fazer que remetem à ancestralidade. 

Confira agora algumas atrações do Galeão:

1. Igreja de São Francisco Xavier

A Igreja de São Francisco Xavier se encontra sobre um alto morro coberto de Mata Atlântica que deu nome ao povoado. 

Segundo Serafim Leite, em sua obra “História da Companhia de Jesus no Brasil”, ao "... pé dele se fez antigamente o primeiro galeão que nesta Província se fez", ou seja, foi o local onde se construiu o primeiro galeão da Bahia.

Adro Igreja São Francisco Xavier Galeão Ilha de Tinharé
Adro da Igreja de São Francisco Xavier, com cruzeiro e mirante ao fundo - Galeão

A subida até ela se dá por uma longa ladeira de paralelepípedos e do seu adro se descortina uma das mais belas paisagens da Bahia, recheada de Mata Atlântica e uma imensidão de manguezais. É ainda possível avistar quase todo o Canal de Taperoá, a Gamboa, o Morro de São Paulo, a Ponta do Curral e também a cidade de Valença.

Ao passar navegando em frente ao Galeão, a igreja se exibe magnificamente como um imã, atraindo olhares e despertando muita curiosidade. Da mesma forma, ela é avistada de diversos pontos da região.

A igreja foi construída em 1626 e é constituída por nave, capela-mor, torre e sacristia com formato de corredor. O interior é simplório, possuindo dois altares em estilo neoclássico, que remontam a reformas realizadas no séc. XIX. A igreja guarda imagens de São Francisco Xavier e de Nossa Senhora da Conceição.

2. Ruínas do casarão “Quatro Estações”

Ruínas casarão Quatro Estações povoado Galeão Ilha de Tinharé
Ruínas do casarão Quatro Estações, no povoado Galeão - Ilha de Tinharé

No caminho da Igreja de São Francisco Xavier, se encontra a misteriosa ruína de um casarão que se destaca pela rica arquitetura, contrastando com as casinhas simplórias do povoado. 

Construído no último quarto do séc. XIX pela família Moreira, uma das proprietárias da Companhia Valença Industrial, antiga fábrica de tecidos de Valença, o casarão ficou conhecido como “Quatro Estações” por trazer, em sua fachada, estatuetas representando as estações do ano.

Passou pelas mãos de diversos outros proprietários, até que entrou em ruínas a partir dos anos 1990.

3. O pôr do sol do Galeão

Pôr do sol entardecer mirante Galeão
Pôr do sol no mirante da Igreja São Francisco Xavier, no povoado do Galeão

O ponto mais especial para assistir ao pôr do sol no Galeão é, certamente, seu ponto mais alto. Por isso, visitar a Igreja de São Francisco Xavier pela tarde é uma ótima pedida, ficando lá em cima até o anoitecer. Mas não vá embora logo após o pôr do sol, pois as vezes o entardecer proporciona uma grande explosão de cores, especialmente nos meses de outono e inverno.

Se a vista deste mirante é espetacular, espere para vê-la com o céu pegando fogo, um verdadeiro espetáculo da natureza!

4. Degustar a gastronomia local

O Galeão não possui praia, mas uma linda orla onde as embarcações ficam atracadas. É nela que se encontram alguns restaurantes de frente para o mar, um clima bucólico e delicioso para se deliciar com as maravilhas da gastronomia local. 

Citando alguns, os restaurantes: Petisco da Cecinha, Encanto da Sereia - do Pelé, do Bera e o Quiosque Pôr do Sol, são especializados em frutos-do-mar servidos fritos ou na forma de moquecas.

O local também é ponto de encontro dos moradores locais e costuma ser bem movimentado nos finais de semana, feriadões e nos períodos de alta temporada.

Como chegar ao povoado Galeão na Ilha de Tinharé

O povoado do Galeão não possui pousadas, sendo um destino a ser desfrutado no estilo bate-volta. É possível chegar até lá a partir de Cairu, navegando 10 quilômetros de lancha pelo mar. 

Para quem chega em Valença de carro, uma boa dica é dirigir mais 30 quilômetros até Nilo Peçanha e outros 19 quilômetros até o atracadouro de Torrinhas, de onde saem lanchas que fazem a viagem para o Galeão em 15 minutos. 

Mas se você estiver em Morro de São Paulo, é possível realizar uma trilha de 21 quilômetros que passa por paisagens belíssimas no caminho. Há também a opção de ir em passeio de quadriciclo ou de bicicleta.

Curtiu o Galeão? Então descubra também os encantos do Arquipélago de Cairu e tudo o que suas 3 ilhas habitadas podem proporcionar para uma viagem ainda mais completa e deslumbrante.


Por Márcio Vasconcelos de O. Torres

Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com

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