
Postado dia 10/09/25 | 6min. de leitura
Mosteiro de São Bento: um dos tesouros de Salvador
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O Mosteiro de São Bento é uma das igrejas mais destacadas e significativas de Salvador, sendo um marco histórico de grande relevância e uma das mais antigas e impressionantes edificações portuguesas no Brasil.
Embora Dorival Caymmi tenha cantado que a capital baiana possui 365 igrejas, a realidade é ainda mais surpreendente: Salvador abriga 372 antigas igrejas católicas, entre as quais a Igreja e Mosteiro de São Bento da Bahia é uma das mais importantes.
Esse prestígio se deve tanto ao seu valor histórico quanto à sua impressionante arquitetura, às obras de arte sacra, ao mobiliário e a raras telas como a do Senhor Bom Jesus dos Martírios, pintada em óleo sobre tela pelo frei Ricardo de Pilar, no séc. XVII.
Por tudo isso, uma visita a este lugar é uma das principais opções de lazer em Salvador, em especial para os apaixonados por história e antigas obras de arte.

História do Mosteiro de São Bento da Bahia: origem e importância
O Mosteiro de São Bento em Salvador é a primeira e única fundação beneditina em terra nas Américas, sendo também a primeira na história da Ordem construída fora da Europa.
Os primeiros frades beneditinos chegaram em 1582, fundando fora dos muros da cidade e ao lado do Portão de Santa Luzia, uma primitiva e pequena ermida em 1584.
A construção atual começou a ser erigida em 1612, em substituição à pequena ermida, sendo uma obra que atravessou os séculos para chegar ao que se pode admirar hoje.
A exemplo da talha primitiva do tapavento (estrutura de madeira ao lado da porta principal, cuja finalidade é barrar a entrada de vento), o altar-mor neoclássico de 1871, o frontão barroco da igreja do final do séc. XVIII e as torres datadas entre fins do séc. XIX e início do XX.
Em 1624, os holandeses invadiram Salvador e ficaram aquartelados no mosteiro. Há uma placa na fachada do prédio que faz referência à data em que os holandeses entraram pela porta.
Cronologia das obras no Mosteiro de São Bento
Segue a cronologia das suas obras, conforme o pesquisador e arquiteto Paulo Ormindo David de Azevedo, no Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC):
1612: Início da construção da igreja abacial, obra de Francisco Frias de Mesquita.
1681: São edificados o pórtico e o coro da igreja (demolidos em 1913).
1684/1689: Foram construídas a nave, capelas laterais e quatro colunas do cruzeiro, destinadas a receber a cúpula.
1690/1694: Cobertura da nave, assentamento do assoalho no coro e o revestimento de todo o interior.
1732: Executado o forro da igreja em abóbada de madeira da árvore vinhático.
1732/1745: Obras da capela-mor.
1800: Chega de Portugal cantaria de lioz (peças feitas com a pedra calcária Lioz) para a capela-mor.
1808: Obras na altura das seis tribunas de lioz.
1859: Construção de um plano inclinado para transporte de material para a abóbada da capela-mor e cúpula. Novo altar-mor em mármore de carrara.
1871: Inauguração da igreja abacial.
1877: Ergue-se a torre do lado do Evangelho.
1880: Ergue-se a torre do lado da Epístola.
1912: Por decreto, o governador J. J. Seabra manda desapropriar e demolir a igreja, mas é revogado sob pressão popular.
1913: O coro foi destruído sem justificativa.
1933: Eliminação da antiga abóbada de vinhático e construção da atual em concreto.

O que ver na Igreja e Mosteiro de São Bento: arquitetura, mobiliário e arte sacra
Começando pela arte sacra, a mais famosa entre as imagens dos altares laterais é a de Nossa Senhora das Angústias. Tal imagem é venerada desde 1612 e costumava sair em procissão no mês de agosto.
Também entre as peças mais antigas, estão antigas pinturas italianas e o par de confessionários barroco-rococó.
O mosteiro, que possui três pavimentos em torno do claustro, não está aberto à visitação. Mas é possível apreciar a Capela de São Bernardo, localizada na área do museu, que foi construída e decorada em fins do séc. XVIII em estilo rococó.
Destaque para mais de 2.500 peças adquiridas pelos beneditinos e cadastradas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Uma coleção de mobiliário distribuída pelos cômodos e recintos da igreja e do convento.
Museu do mosteiro
O museu foi montado no começo deste século, quando diversas peças retornaram do Museu de Arte Sacra para o mosteiro.
No acervo estão diversos artigos do séc. XVI ao XX, incluindo quadros, porcelanas, cristais, paramentos, ourivesaria, especialmente relicários e muitas imagens.
As peças mais importantes de cada período foram escolhidas para exposição, com obras de autores anônimos e outras atribuídas a José Joaquim da Rocha, pintor do séc. XVIII. Há também trabalhos de artistas beneditinos, como o frei Agostinho da Piedade, frei Ricardo do Pilar e frei Agostinho de Jesus.
Relicários belíssimos em prataria do séc. XVIII também podem ser admirados, especialmente as que possuem forma de braços e pernas.
Uma pinacoteca (coleção de quadros de pinturas) oferece vasta produção de retratos dos beneditinos.
Quanto às esculturas de grande porte, chamam a atenção imagens de tamanho natural dos patronos do mosteiro, São Bento e sua irmã Santa Escolástica, ambas do séc. XVIII.
Biblioteca do Mosteiro de São Bento
Acredita-se que a biblioteca tenha sido fundada junto com o próprio edifício, já que as regras beneditinas estabelecem que os religiosos devem orar, trabalhar e ler.
No acervo estão mais de 35 mil volumes, incluindo obras raras como: manuscritos, iluminuras, livros, documentos históricos, cartas, mapas, testamentos, desenhos, plantas, partituras musicais e obras diversas sobre teologia, filosofia e história.
Atualmente, o acesso à biblioteca se dá por meio de autorização para fins de pesquisas, sendo que para o público geral, destinou-se uma sala para consultas externas à biblioteca.
Canto Gregoriano
Sempre aos domingos e às 10:00, as missas são acompanhadas pelo coro de canto gregoriano, um verdadeiro espetáculo da liturgia católica que remonta aos primórdios do período medieval.
Tal espetáculo religioso é aberto ao público e considerado um dos mais respeitados do Brasil.

Mais informações sobre o Mosteiro de São Bento em Salvador
Horário das missas: de segunda a sexta-feira, das 07:00 às 12:30; sábado, às 07:00; domingo, às 10:00.
Endereço do Mosteiro de São Bento: Largo de São Bento, Centro, Salvador.
Bibliografia
AZEVEDO, Paulo Ormindo David de. IPAC-BA: Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia. Salvador: Secretaria da Indústria e Comércio e Turismo. v.1. Monumentos do Município de Salvador, 1975-2002. 7v.
FLEXOR. Maria Helena Ochi. Igrejas e Conventos da Bahia. Parte II. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2010.
ROCHA, Dom Paulo; AMOROSO, Dom Timóteo; VALLADARES, Clarival; REGO, Waldeloir. 400 anos do Mosteiro de São Bento da Bahia. São Paulo: Hermes Rocha, 1982.
Como chegar ao Mosteiro de São Bento
O Mosteiro de São Bento está localizado no Largo de São Bento, em frente à Praça Castro Alves e a poucos metros da Rua Chile e da Praça Tomé de Sousa. Ele pode ser acessado de várias maneiras, confira:
Via transporte público
A Praça da Sé também é vizinha do mosteiro e um importante ponto de parada de diversas linhas de ônibus oriundas das mais variadas partes da cidade.
Outra alternativa, é pegar um ônibus para o famoso Terminal da França, subir o Elevador Lacerda e caminhar até o mosteiro.
Via transfer
O transfer é sempre um serviço muito útil em cidades grandes, especialmente por oferecer mais segurança e muito mais conforto. Assim sendo, é considerado a melhor maneira para se deslocar em Salvador.
É possível contratar um transfer para o Mosteiro de São Bento, lembrando que nesse caso, um receptivo estará lhe aguardando no saguão do seu hotel.
O que fazer próximo ao Mosteiro de São Bento em Salvador
O centro histórico de Salvador é imenso, sendo quase impossível visitar todos os seus monumentos até mesmo pelos baianos que moram lá. Por isso, é importante traçar estratégias, como a de visitar outros monumentos próximos ao seu objetivo primordial.

Como já foi dito anteriormente, a Igreja e Mosteiro de São Bento está ao lado de um dos antigos portões de acesso à antiga cidade murada, portanto próximo de monumentos que remontam aos primórdios da cidade.
Entre eles podemos mencionar a Igreja e Convento de São Francisco, a Santa Casa de Misericórdia e o antigo Colégios dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus.
O mais legal, é que todos eles são acessíveis andando mesmo, a partir do Mosteiro de São Bento. Mas uma coisa é certa: é preciso foco, pois no caminho surgirão inúmeros casarões antigos e outras tantas igrejas seculares, sem falar das diversas manifestações culturais que a todo instante surgem com seus cânticos, musicalidade e danças.
Para os mais atentos, observar o cotidiano do povo soteropolitano (quem nasce em Salvador) nesta região também oferece uma grande riqueza cultural que ajuda e muito, a entender a formação do Brasil.
Agora que você já conhece o Mosteiro de São Bento em Salvador, conheça também outro cartão postal da capital baiana. Saiba tudo sobre o Elevador Lacerda localizado na Praça Municipal (Praça Tomé de Sousa) e a poucos metros caminhando a partir do mosteiro. Trata-se de um lugar cujo mirante descortina uma paisagem indescritível, que inclui o lindo mar da Baía de Todos os Santos e o conjunto arquitetônico da Cidade Baixa.
Por Márcio Vasconcelos de O. Torres
Historiador e viajante - marciotorresbb@gmail.com
